Título: Alencar tenta driblar acordo para reajuste de militares
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/04/2005, Nacional, p. A6

Pouco antes de almoçar no Comando da Aeronáutica, ontem, o ministro da Defesa e vice-presidente José Alencar disse que não presenciou o compromisso do governo de conceder um reajuste de 23% para militares das três Forças. "Isso não é do meu tempo, é preciso ver quem fez esse compromisso", afirmou. Após o almoço e uma longa conversa com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, e o ministro da Casa Civil, José Dirceu, Alencar driblou o assunto. Alencar não disse, mas quem firmou o compromisso foi o ex-ministro José Viegas, quando anunciou o aumento de 10% para o ano passado. Na ocasião, disse que em março de 2005 o governo concederia um substancial aumento de 23% aos militares. Viegas deixou o cargo depois de um forte desgaste causado pela polêmica sobre a abertura dos arquivos da ditadura militar (1964-1985), que ele negava existirem.

Usando de diplomacia, Alencar não negou que haverá aumento, tampouco falou em porcentuais. Ele disse que a proposta de um novo reajuste para os militares será avaliada com "carinho, respeito, dedicação, apreço e seriedade". Mas contrapôs que o governo "tem certas dificuldades orçamentárias".

INSATISFAÇÃO

Alencar disse o governo está atento a eventuais defasagens nos salários dos militares, mas registrou que existe insatisfação em outras categorias. Segundo ele, o pedido de reajuste salarial feito pelos militares é um assunto "que está sempre presente nas preocupações do governo". Acenou com soluções razoavelmente rápidas: "Acredito que já, já, teremos notícias sobre este e outros assuntos."

O ministro está informado de que mulheres de militares reforçam a pressão por reajuste e ameaçam fazer novo protesto na Esplanada para reivindicar aumento de salários para os maridos, que não podem se manifestar publicamente.

Ao lado de Alencar, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, destacou que a agenda do governo está aberta para discutir o reajuste dos militares. "Estamos trabalhando no sentido de fazer as correções (salariais)", disse, "mas a decisão sobre o tempo, o prazo e o valor desse aumento cabem ao presidente da República, a partir de estudos do Ministério do Planejamento", lembrou.

Dirceu ressaltou que um eventual aumento salarial para os militares deve levar em conta a situação do País e as limitações do orçamento federal. O ministro salientou que, além de um reajuste para os militares, o governo tem interesse em melhorar as condições de trabalho das Forças Armadas, investindo na compra de equipamentos.