Título: Banco Mundial elege Wolfowitz por unanimidade
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/04/2005, Economia, p. B6

Com unanimidade de votos, o controvertido vice-secretário de Defesa dos Estados Unidos, Paul Wolfowitz, 61 anos, foi eleito ontem presidente da do Banco Mundial (Bird), pelos 24 diretores-executivos da instituição. Ele assumirá o posto em 1.º de junho, sucedendo a James Wolfensohn, ex-banqueiro que conduziu o Bird nos últimos dez anos. "Agradeço pelo voto de confiança", disse Wolfowitz em nota. "É com humildade que me vejo investido da liderança desta instituição internacional crucialmente importante", acrescentou o homem que era conhecido, até agora, por ter sido o ideólogo da invasão do Iraque e pela suprema confiança e agressividade com que sempre defendeu suas idéias nas posições que ocupou no mundo acadêmico e no governo.

Nas duas semanas que precederam a eleição, Wolfowitz empenhou-se em responder ao choque com que sua nomeação pelo presidente George W. Bush - que o chama de Wolfie - foi recebida, sobretudo na Europa. Na campanha para reformar quase que instantaneamente sua imagem de unilateralista radical, ele estendeu pontes a seus críticos e tomou a iniciativa de telefonar para o roqueiro irlandês Bono, do grupo U2 - um dos líderes da causa pela redução da pobreza, que se tornou uma das missões centrais do Bird na gestão de Wolfensohn.

A pedido dos europeus, Wolfowitz foi quarta-feira a Bruxelas para tranqüilizar os ministros do Desenvolvimento da região sobre o que definiu como uma visão mais de continuidade do que de ruptura com o trabalho de Wolfensohn. No mesmo dia, telefonou para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que estava em viagem à Europa. Falou então com o secretário-geral da pasta, Robert Appy.

"Acredito realmente na missão do banco", disse Wolfowitz, após assegurar que usaria a presidência do Bird para promover a agenda dos EUA. "Creio que um dos desafios da instituição - e, portanto, meu - é como assegurar que ela fará o melhor uso dos recursos à sua disposição."

Enrique Iglesias, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), disse que, a julgar pelas declarações de Wolfowitz, vê mais promessa de continuidade do que de mudança.

Uma preocupação que Wolfowitz traz para o Bird é a segurança física dos funcionários e instalações ao redor do mundo. Alvo óbvio para organizações terroristas, Wolfowitz foi questionado por diretores sobre o problema. Respondeu que tomará medidas para proteger o banco e a equipe.

Comandada pelo saudita Yahya Alyahya, diretor decano do banco, a reunião que oficializou um mandato de cinco anos para Wolfowitz como 10.º presidente do Bird foi precedida por uma conversa dele com o chamado G-11 - formado pelos 12 diretores que representam os 108 países em desenvolvimento membros do bancos, de um total de 184.

No encontro, presidido pelo diretor brasileiro, Otaviano Canuto, Wolfowitz relatou a conversa da véspera, em Bruxelas, com representantes europeus e informou que não assumiu compromisso com a demanda de aumento da representação da Europa na alta administração do banco. Num gesto adicional para tranqüilizar os representantes das nações mais pobres, Wolfowitz disse que se associava a uma declaração que o G-11 emitiu após sabatiná-lo na semana passada. O texto realça a preocupação das nações em desenvolvimento com critérios políticos no preenchimento de postos do alta hierarquia do banco.