Título: Abastecimento está garantido, diz ANP
Autor: Nicola PamplonaKelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/04/2005, Economia, p. B5

Interrupção da Refinaria Ipiranga não vai afetar fornecimento no Rio Grande do Sul A Agência Nacional do Petróleo (ANP) garantiu ontem que não haverá problemas de abastecimento de combustíveis na região atendida pela Refinaria Ipiranga, que suspendeu suas atividades na semana passada. A própria Ipiranga tem estoques para atender o mercado até o mês que vem. Depois disso, a Petrobrás já se comprometeu com a ANP a garantir o fornecimento. A refinaria deverá ficar parada até que os preços dos combustíveis no Brasil se alinhem às cotações internacionais do petróleo. A Refinaria Ipiranga é responsável por uma parcela pequena - entre 10% e 15% - do volume de combustíveis consumido no Rio Grande do Sul, mas é praticamente a única fornecedora de combustíveis daquela parte do Estado, entre a Lagoa dos Patos e a fronteira com o Uruguai. A empresa decidiu suspender temporariamente a produção para reduzir os prejuízos que vem acumulando enquanto os preços dos combustíveis no Brasil estão abaixo da cotação internacional do petróleo. Enquanto isso, as instalações da refinaria vão passar por manutenção e a expectativa é que as atividades sejam retomadas no fim de maio.

No esquema de emergência montado pela Petrobrás, os combustíveis para a região serão deslocados de outras partes do País. A Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Porto Alegre, vai fornecer a gasolina, enquanto o diesel sairá de refinarias paulistas. Caso seja necessário, o esquema pode provocar um pequeno aumento no preço local dos combustíveis, já que o custo do frete terá de ser incorporado ao valor de venda nas bombas. A Refap, por exemplo, fica a cerca de 300 quilômetros de Rio Grande, onde está a Refinaria Ipiranga.

ALTERNATIVAS

O descasamento entre os preços dos combustíveis e as cotações internacionais do petróleo é motivo de queixa das refinarias privadas desde 2002, quando petróleo e dólar começaram a disparar. No ano passado, Ipiranga e Manguinhos chegaram a reduzir sua produção para minimizar as perdas. Anteontem, os controladores de Manguinhos disseram que estão procurando alternativas para a crise.

O problema é apontado por analistas como um dos principais entraves à construção de novas refinarias no Brasil. "O governo não pode impedir empresas privadas de funcionar no País em legítima concorrência, já que o mercado é aberto e não um monopólio", avaliou o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). A Petrobrás vem alegando que não mexe nos preços dos combustíveis enquanto não sentir a confirmação de um novo patamar no mercado externo. Ontem, a estatal preferiu não comentar o assunto.

No mercado financeiro, a percepção sobre a paralisação da Ipiranga foi reavaliada e já se acredita que a medida pode ter reflexos positivos para a empresa, já que contém parte da sangria que as atividades de refino vinham provocando nas finanças do grupo. As ações preferenciais da refinaria fecharam o pregão de ontem da Bolsa de Valores de São Paulo em alta de 5,4%, ante uma queda de 3,6% no dia anterior.