Título: Alencar levará queixa de militares a Lula
Autor: Tânia Monte
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2005, Nacional, p. A6

Presidentes de três associações de mulheres de militares pediram ontem ao vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, que o governo federal honre a promessa feita no ano passado e conceda 23% de aumento salarial nos soldos. Trata-se da diferença sobre o que já foi pago e o reajuste de 33% negociado em junho. Segundo as representantes dos militares, acompanhadas pelo deputado Jair Bolsonaro (PFL-RJ), Alencar ouviu o apelo e afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "está sensível aos problemas da família militar". Prometeu levar pessoalmente a reivindicação ao presidente e trazer uma resposta já na próxima semana.

O vice-presidente, no entanto, não citou índices, nem prazo para a concessão do reajuste. Alencar teria explicado que só o presidente Lula tem o poder de decisão nestes casos, mas ressalvou que ele, também, não pode ultrapassar os limites estabelecidos pela lei orçamentária. O vice-presidente ainda salientou que reconhecia que não se tratava de aumento, e sim de reposição salarial.

No último domingo, as mulheres dos militares fizeram um panelaço na Praça dos Três Poderes, exigindo o pagamento do reajuste prometido. A audiência de ontem foi combinada com Alencar após a manifestação, realizada durante a cerimônia de troca da bandeira. O acordo original definiu o pagamento de reajuste de 10% em setembro - o que foi cumprido - e o restante, no primeiro trimestre. Como março está em curso e não há previsão sobre os 23% devidos, as mulheres se mobilizaram.

CALHA NORTE

O projeto Calha Norte de ocupação da Amazônia e das fronteiras da região poderá sofrer um grande retrocesso, com o corte de 90% dos seus recursos determinado pela área econômica para 2005. Em 2004, o projeto recebeu R$ 41 milhões: R$ 19 milhões do orçamento e R$ 22 milhões de emendas. Foram acrescidos ainda R$ 4,5 milhões do BNDES.

Com o anúncio dos cortes, sofrerão atrasos a finalização da construção do quartel de São Gabriel da Cachoeira (AM), na fronteira com a Colômbia, e o início das obras das unidades militares de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, também no Amazonas, fronteira com Venezuela.

Já preocupado com os cortes que afetarão também quartéis do Acre, um dos Estados mais beneficiados com o Calha Norte, o governador Jorge Viana (PT) esteve na semana passada com Lula e Alencar para pedir que não sacrifiquem as emendas parlamentares que beneficiarão a região. A deputada Maria Helena (PPS-RR), presidente da Comissão da Amazônia, criticou os cortes. "Precisamos que o governo fortaleça os municípios e não corte as verbas do Exército na região", declarou, ao salientar que "cortar verba significa fragilizar a soberania da Amazônia, em um momento em que pessoas como Pascal Lamy - candidato a diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC) - defendem a transformação das florestas tropicais em bens públicos da humanidade".