Título: Morre 8.ª criança caiová em MS
Autor: João Naves de Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2005, Nacional, p. A14
Sulivan Duarte, de um ano e quatro meses, morreu no final da noite de domingo, no Hospital da Mulher em Dourados, Mato Grosso do Sul, a 220 quilômetros de Campo Grande. Ele é mais um na lista de crianças da etnia guarani-kaiowá da Aldeia Indígena de Dourados que morreram neste ano vitimadas pela desnutrição. O atestado de óbito indica uma infecção generalizada como causa da morte, mas o pai do menino, Reinaldo Duarte, afirmou que está sem alimentos em casa. "É o segundo filho que perdemos este mês", lamentou Reinaldo, consolando a mulher, Suzana Ribeiro Benites, que carregava o filho mais novo, de um mês de idade.
A família de índios mora em um casebre erguido com paus e palha de milho, coberto de lona em péssimas condições e onde é notória a falta de comida. Situação semelhante foi encontrada nas moradias de outras sete crianças, vítimas da fome, que também residiam na mesma aldeia.
MORTES PREVISTAS
Os médicos que integram a força tarefa, montada há duas semanas para combater a subnutrição nas aldeias, já previam a possibilidade de mortes. Segundo levantamento da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), foram constatados 170 casos de subnutrição grave entre as crianças indígenas de Dourados, Japorã e Amambaí.
O primo de Sulivan, Janison Valdez Duarte, de três meses, morreu na quarta-feira da semana passada - foi o sétimo caso na aldeia. No último sábado, morreu Robson Garcia Fernandes, de dois anos de idade. Antes dele, na quinta feira, morreram Rosivaldo Gonçalves Barbosa, de um ano e 11 meses, e Jenifer Duarte Gonçalves, de um ano e três meses, e no dia 19 de fevereiro, Kely Fernandes Arévalo, de sete meses. As duas primeiras crianças vítimas da fome na aldeia morreram no início de janeiro.
APURAÇÃO
O Diário Oficial do Mato Grosso do Sul publicou ontem a composição da Comissão Parlamentar de Inquérito, denominada CPI da Fome, que vai apurar o problema de desnutrição em todas as aldeias do Estado.
A primeira reunião está marcada para a próxima quinta-feira, dia 10, quando será ouvido o reverendo Benjamim Benedito Bernardes, diretor do "Centrinho", onde está internada a maioria das crianças indígenas desnutridas.
No próximo dia 14, serão ouvidos dirigentes da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), órgão do Ministério da Saúde responsável pelo atendimento médico aos índios), e da Fundação Nacional do Índio (Funai) e também o prefeito de Dourados, Laerte Tetila (PT), médicos e agentes de saúde, além da coordenadora do programa Segurança Alimentar, Itaciana Santiago Pires.