Título: Abin chamada a explicar ida de agentes a Cuba
Autor: Ariosto Teixeira
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2005, Nacional, p. A7

O Senado vai encaminhar ao ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, pedido de informações sobre um programa de intercâmbio entre os serviços de inteligência do Brasil e de Cuba. A iniciativa foi tomada com base em requerimento apresentado pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM). No início da semana, o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), protocolou requerimento idêntico e pediu à Comissão de Acompanhamento de Ações de Inteligência da Câmara que convoque o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), delegado Mauro Marcelo, a prestar esclarecimentos aos deputados.

Na última semana de fevereiro, o chefe da Abin esteve em viagem oficial a Havana para consolidar o programa de aproximação e intercâmbio entre a agência e a Dirección General de Inteligência (DGI), o serviço secreto cubano. A visita resultou num acordo para treinamento e troca de experiências de agentes da Abin, que vão a a Cuba neste mês.

KGB

O requerimento de Virgílio pretende que o general Félix, a quem a Abin está subordinada, revele quais as experiências que a agência pretende assimilar e se a idéia é implantar, em seus quadros, o modus operandi da polícia secreta de Fidel Castro. "Estamos todos estupefatos com essa iniciativa", disse Virgílio ao Estado.

Segundo o líder do PSDB, a DGI foi formada pela KGB, da antiga União Soviética, e teria como atribuição central "auxiliar movimentos revolucionários em todo o mundo".

O senador disse que, se forem confirmadas as informações sobre esse programa de intercâmbio, até agora oficialmente desconhecido do Congresso, isso significa que o governo brasileiro escolheu formar profissionalmente seus quadros de inteligência "com uma agência historicamente totalitária e cujos métodos sanguinários aplicados na obtenção de informação não condizem com aqueles utilizados por países democráticos como o Brasil".

A preocupação dos líderes de oposição no Congresso não se resume apenas a esse programa da Abin. Alguns parlamentares desconfiam da existência de outros acordos entre o governo brasileiro e o regime de Fidel Castro, também mantidos sem segredo, que poderiam ir bem além do intenso trânsito de autoridades do governo Lula para Cuba.