Título: Tudo para ficar perto do poder
Autor: Dantas, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 15/08/2008, Tema do Dia, p. A2

Prestação de contas ao TSE mostra que candidatos ligados a máquinas estadual ou municipal estão na liderança do ranking de doações.

O olhar mais apurado sobre o financiamento das campanhas nas principais capitais do país não deixa dúvidas: o dinheiro das empresas privadas anda atrás do poder. O JB analisou as prestações de contas dos candidatos, no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e descobriu que em pelo menos 68% das cidades candidatos ligados às máquinas municipais ou estaduais estão com os cofres abarrotados de doações. Em 25 capitais brasileiras onde, em outubro, haverá eleições para prefeito ­ em Brasília não ocorrerá o pleito e, em Belo Horizonte, não foi divulgada a prestação de contas de Márcio Lacerda (PSB) ­ ao menos em 17 delas, candidatos que concorrem à reeleição ou são apoiados pelos atuais prefeitos e governadores, saíram na frente na arrecadação. No Rio, os dois primeiros são Eduardo Paes (apoiado por Sérgio Cabral), com R$ 569.600, e Solange Amaral (candidata de César Maia), que teria recebido R$ 409.400.

A ira da esquerda

O levantamento trouxe de volta a discussão sobre o financiamento de campanha e despertou a ira da esquerda carioca ­ que vinha se atacando. De Chico Alencar, veio o ataque mais rascante: ­ Estou curiosíssimo para saber quem está doando dinheiro a estas campanhas milionárias ­ declarou. O candidato propõe uma reforma política urgente, cuja saída é o "financiamento público monitorado para tornar a disputa igualitária", disse, ao ressaltar que as empresas sabem que é importante manter um bom relacionamento com o governo. Para Jandira Feghali (PCdoB), a arrecadação maior de alguns candidatos reflete o uso da máquina, e a comunista já orientou seus advogados a vigiar os oponentes. ­ Se o governador pede dinheiro a um empresário, você acha que ele não vai dar? ­ espetou Jandira. Paulo Ramos (PDT) também reclama da desigualdade das doações às campanha ligados ao poder. ­ As entidades que reúnem o empresariado contribuem para a desigualdade. Não sei como o TRE não percebe o abuso do poder econômico ­ criticou, destacando que tais candidatos ficam impunes por serem ligados à máquina. Alessandro Molon, do PT, também constata que o poder econômico infla outras candidaturas, o que prejudica a democracia e desequilibra o pleito. Fernando Gabeira (PV), a terceira maior arrecadação, critica a decisão do TSE de cancelar o recebimento de doações de campanha pela internet. Para Gabeira, o país vai voltar 10 anos por causa da medida. ­ Prefiro a doação pela internet do que o financiamento público ­ afirmou. ­ Hoje, existem empresários que concordariam em doar desinteressadamente, só é preciso recuperar a imagem da política. Eduardo Paes (PMDB), no entanto, um dos beneficiados com o apoio do governador do Rio ­ o próprio candidato costuma exaltar Cabral dizendo ser ele o principal cabo eleitoral da campanha ­ não acha justo gastar o dinheiro do contribuinte. Para o peemedebista, deve-se encontrar uma maneira mais justa de equalizar a arrecadação. Já Marcelo Crivella (PRB) preferiu abster-se da discussão. Sua candidatura está no vermelho ­ menos R$ 257 mil ­ e o bispo, embora não seja apoiado por nenhuma instância de governo local, tem forte peso nas ruas e tal disparidade também é questionada pelos oponentes. Já a candidata do DEM, Solange Amaral, defende-se ao dizer que não está simples viabilizar a campanha, e ressalta que o horário eleitoral gratuito e o fundo partidário provêm do dinheiro público. ­ A verba arrecadada até agora é para custear TV e rádio. O candidato do PMDB arrecadou o dobro de nós, e tem muita mais tabuleta ­ observou Solange. A Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ) e a Federação das Indústrias (Firjan) preferiram não se manifestar. Alegaram que a doação de campanha do empresariado é uma escolha de cada empresa.