Título: Fenômeno se repete em São Paulo, Curitiba e Salvador
Autor: Dantas, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 15/08/2008, Tema do Dia, p. A2

BRASÍLIA

Se no Rio Paes (candidato do estado) e Solange (do município) são os que mais arrecadam, em São Paulo a situação se repete: candidato à reeleição, Gilberto Kassab (DEM) já levantou R$ 2.649.900. Em Salvador, Curitiba, Manaus, Fortaleza, São Luís e Maceió não é diferente. Na Bahia, o atual prefeito e candidato a reeleição João Henrique Carneiro (PMDB), com R$ 503.275, chega a superar o tradicional e poderoso clã de seu rival ACM Neto (DEM) ­ que declarou ter recebido R$ 500 mil em contribuições. Em Curitiba, o prefeito Beto Richa (PSDB) é o campeão de arrecadações com quase R$ 1,3 milhão para turbinar sua reeleição.

Sociólogo critica modelo

O cientista político e professor da Universidade de Brasília (UNB), Leonardo Barreto, aponta a falta de transparência como o principal problema do atual modelo de financiamento de campanhas. Segundo Barreto, a Justiça Eleitoral não tem condições de fiscalizar as doações. ­ Normalmente,ovalorprestado em contas equivale a 20% ou 30% do que realmente se arrecadou ­ diz. ­ Os dados, apesar de elevados, são pouco realistas. Barreto chama a atenção para o que denomina de "custo do não", que seria o prejuízo que uma empresa tem quando o candidato financiado por ela não é eleito. A tendência, quando isso ocorre, é do adversário vencedor, uma vez no cargo, dificultar a vida dos contratos dela com a prefeitura. ­ Então as empresas sofrem essa pressão e fogem dela ou doando para todos os candidatos que ela considera com chances ou não doando a ninguém. Há também que doe sem prestar contas oficiais ­ explica. Apesar destes problemas, o professor considera difícil a implantação do modelo de financiamento público exclusivo de campanha no Brasil. O principal entrave, diz Barreto, é a necessidade de atrelar este modelo ao voto em listas partidárias fechadas, o que o Congresso já demonstrou em mais de uma ocasião que não está disposto a levar adiante. O professor considera mais viável o estabelecimento de alguma espécie de teto para os gastos de campanha. Sobre o fato de candidatos apoiados pelas máquinas públicas terem mais facilidade para arrecadar recursos, Barreto é direto. ­ Isso ocorre porque você já tem um conjunto de empresas que mantém negócios com o poder público e não estão dispostas a perdê-los.