Título: Bolsa Família reduz a fome sem estimular a preguiça
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/06/2008, País, p. A4

Beneficiados estão consumindo mais açúcares, como refrigerantes.

Os beneficiários do Bolsa Família afirmam que o programa os ajuda a consumir mais alimentos ¿ especialmente açúcares ¿ e não causou, na opinião dos favorecidos, o efeito preguiça, ou seja, o acomodamento do trabalhador por causa da renda garantida. Mas faltam programas que ajudem a superar a pobreza e diminuir a dependência dos recursos.

É o que mostra pesquisa coordenada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e feita pelo instituto Vox Populi com beneficiários do Bolsa Família.

Com financiamento da Finep (órgão de apoio à pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia), o objetivo principal do levantamento foi investigar o nível de segurança alimentar e nutricional dos favorecidos.

Escola e roupa

Os itens com os quais eles disseram mais gastar o dinheiro do Bolsa Família foram alimentação, material escolar e vestuário.

No quesito alimentação, o principal aumento foi no consumo de açúcares: 78% dos titulares disseram ter aumentado a compra de açúcar, sorvetes, gelatinas, bombons ou refrigerantes. Em seguida aparecem arroz, cereais e leite.

De acordo com Francisco Menezes, diretor do Ibase e coordenador-geral da pesquisa, o Bolsa Família tem ajudado seus beneficiados a aumentar a variedade de alimentos consumidos. Ele sugere, no entanto, que sejam criados programas para aumentar o consumo de produtos como legumes, verduras, frutas e carnes e diminuir o de açúcares.

¿ Não dá para dizer que as famílias estão fazendo mau uso do dinheiro ¿ disse. ¿ A pesquisa mostra que aumentou o consumo de arroz e feijão, o que é muito positivo. Mas, ao mesmo tempo, também cresceu o gasto com doces, biscoitos e refrigerantes, o que nos levou a recomendar programas de educação alimentar.

Meio de vida

O diretor do Ibase lembra, no entanto, que o alto consumo de açúcares também pode ser uma estratégia de sobrevivência, já que são produtos que podem ser estocados e ajudam rapidamente a aplacar a fome.

A secretária de Renda da Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Rosani Cunha, diz que isso não aconteceu só no programa.

¿ A Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE já mostrava essa tendência para toda a população ¿ explicou.

Outra recomendação de melhoria do programa feita na pesquisa do Ibase é aumentar a articulação com programas que permitam às famílias sair da situação de pobreza. A pesquisa identificou que apenas 16% dos titulares do benefício disseram que o Bolsa Família os ajudou a ingressar em programas de geração de renda. No caso de cursos profissionalizantes, o percentual foi ainda menor: 8%.

¿ A maioria entende que o programa é temporário e quer trabalhar no setor formal ¿ salienta Menezes. ¿ Por isso, fizemos uma forte recomendação de que o Bolsa Família se articule mais com outros programas.

Roseni Cunha disse que a estratégia de integração com outros projetos começou com o Programa Brasil Alfabetizado, mas que já está se expandindo:

¿ Para qualificar, é preciso antes aumentar a escolaridade ¿ acrescentou.