Título: Beltrame: mudança à vista
Autor: Balocco, André
Fonte: Jornal do Brasil, 26/05/2008, Cidade, p. A11

Fuzis serão substituídos por armas menos letais e com alcance menor, como a carabina

André Balocco

A sensação de insegurança que vem aumentando entre os moradores da cidade já tem data para começar a terminar. Além das 300 câmeras que transformarão o Rio num imenso Big Brother, atuando na vigilância dos pontos mais violentos selecionados pela secretaria, outros 450 soldados da Polícia Militar estarão nas ruas a partir de julho. Segundo o Secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame, os recrutas estão terminando o curso de formação da PM e, imediatamente após, passarão a patrulhar as ruas. Beltrame avisa ainda que os soldados passarão também por outro curso: o de patrulhamento comunitário, que ele considera fundamental dentro de um processo de renovação da política de segurança do Estado.

¿ Hoje temos muita dificuldade em retirar um policial das ruas para dar a ele esta instrução ¿ atesta Beltrame. ¿ É complicada a adaptação, fora o fato de que não estarão nas ruas durante o estudo. A partir de agora, os PMs já se formarão sabendo como funciona a lógica do patrulhamento comunitário.

Modelo londrino

O secretário evita falar abertamente, apostando que a ação é mais importante do que a retórica. Mas prevê um novo tempo na política de segurança pública. Segundo ele, chegou a hora de mudar a forma de proteger a população. Beltrame aposta suas fichas em vários projetos e o patrulhamento via câmeras é um deles. A princípio, o modelo londrino, que monitora a cidade à procura de delitos, acionando as patrulhas em caso de flagrantes, será a mola mestra deste viés. Mas há outros.

No acordo que assinou na semana passada com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, em que o governo federal liberou R$ 56 milhões para o Estado, estava a compra de carabinas. Beltrame quer trocar os fuzis que os policiais ostentam no patrulhamento da cidade pelas novas armas, menos letais. Enquanto os fuzis têm alcance de 2km, as carabinas atingem apenas metade desta distância.

¿ Os fuzis serão usados apenas nos combates diretos ¿ ressalta o secretário. ¿ As carabinas fazem um estrago menor e assim o risco de balas perdidas diminui ¿ diz, garantindo que, na maioria das vezes em que inocentes são atingidos pelos projéteis, eles vêm dos bandidos. ¿ O policial, quando existe esta ocorrência, tem sua arma apreendida e isto facilita sua identificação.

Beltrame diz ainda que as carabinas são menos ostensivas e que, por serem de menor porte, não ficarão expostas para fora do carro, como hoje acontece com os fuzis. O secretário acredita que o fato de o policial ter de pôr a arma para fora do carro por conta de seu tamanho, agride a população.

¿ Mas nas incursões, os soldados vão usar fuzis ¿ garante.

A mudança de filosofia será lenta e gradual. O secretário sabe que a sensação de segurança é o maior desejo da população e por isso não gosta de se estender sobre o assunto. Daí a importância do anúncio que fez ontem com exclusividade para o Jornal do Brasil.

¿ É uma mudança vagarosa, para cinco, 10 anos ¿ calcula. ¿ Não se pode fazer isto de uma hora para outra e a população quer mesmo é ter a sensação de segurança ¿ concluiu.