Título: A agenda climática para prevenção
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/04/2008, Opinião, p. A8

A crise dos alimentos que tem estimulado, nas últimas semanas, líderes de organismos internacionais a falarem sobre a brusca elevação dos preços e a escassez de produtos informa ao mundo o imperativo de uma mudança: revela que é hora de se pensar um novo modelo de redistribuição de alimentos, capaz de andar lado a lado com dois valores essenciais da vida contemporânea ¿ o respeito ao meio ambiente e a sustentabilidade da produção.

A quantidade e a importância das entidades que têm se pronunciado sobre o assunto são eloqüentes: Organização das Nações Unidas, Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e G-8. Mas o ponto a discutir extravasa as fronteiras de tais entidades.

Paliativos e pacotes emergenciais ¿ como os que têm sido propostos por alguns líderes, que sugerem um reforço da ajuda aos países mais pobres ¿ não aliviarão o mundo de um problema do qual será refém nas próximas décadas. Não se pode crer que o desespero atual sumirá na próxima colheita. O mundo passa por um descompasso climático agudo que exige medidas para efeito a longo prazo.

Não se discute a importância dos paliativos, mas a demanda imperativa de ações que visem à prevenção contra um futuro quadro ainda mais crítico do que se assiste no presente. O resultado das últimas colheitas dá sinais da retribuição que o planeta dará ao homem nos próximos anos. A previsão mais tenebrosa sugere que a tendência é acompanhar a atual orquestra da natureza, cuja regência tem sido proporcional à agressão sofrida ao longo de décadas. É a insegurança alimentar, portanto, que crescerá à medida que as colheitas ficarem menos previsíveis e as terras, menos cultiváveis.

Se o Brasil, agraciado com extensos solos de qualidade favorável ao plantio, além de ventos e temperaturas propícias à agricultura, não pôde sentir diretamente os impactos da crise dos alimentos, que pelo menos interprete os riscos de restrições às suas exportações de arroz como um impacto gerado pela tensa conjuntura. (Mesmo alívio não puderam sentir nações como Haiti, Indonésia, Costa do Marfim, Egito e Camarões, que vivenciaram até mesmo confusão em suas ruas causada pela falta de itens alimentícios).

O momento é oportuno, para que países como o Brasil imponham em sua agenda políticas pró-ativas para amenizar e, principalmente, prevenir os danos trazidos pelo descompasso climático. Por outro lado, cabe aos Estados Unidos e à União Européia reverem suas práticas de produção e distribuição. Há tempos, subsídios e barreiras agrícolas vêm desestimulando a produção de países pobres e em desenvolvimento, que justificadamente se sentem prejudicados.

Convém dar atenção aos efeitos causados pelas mudanças climáticas sobre a produção de alimentos. O reforço de organismos internacionais deve ocorrer em prol da preservação da Terra. Os sinais do desgaste gritante são motivos mais do que suficientes.