Título: 'Dudu': tráfico ia vingar prisão
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 20/01/2005, Rio, p. A15

Traficante da Rocinha diz em depoimento na Justiça que quadrilha planejava atacar policiais

O traficante Eduíno Eustáquio de Araújo, o Dudu, revelou ontem em depoimento, no 1º Tribunal do Júri da capital, que foi ameaçado por policiais da 15ª DP (Gávea) no presídio de Bangu 1, onde está preso. A ameaça teria ocorrido, segundo Dudu, porque os policiais tiveram conhecimento de que, numa reunião, traficantes fixaram preços pela morte dos agentes que o prenderam. Apontado como o responsável pela invasão da Favela da Rocinha, no ano passado, Dudu foi preso no dia 31 de dezembro, em Saquarema. Segundo Dudu, os policiais afirmaram que, caso fossem fixados preços por suas mortes, os parentes do traficante também seriam indiciados. O crime seria o de ''vinculação ao tráfico''.

Ainda segundo Dudu, o delegado o ameaçou com mais quatro mandados de prisão. Sem o aplique no cabelo que usava ao ser preso, Dudu estava nervoso.

O depoimento foi assistido por sua mãe - sentada na primeira fileira - e pela namorada, Priscila Ribeiro, essa última, cumprimentada com beijos e declaração de ''eu te amo'' na chegada do traficante. No interrogatório, o traficante negou as acusações de homicídio, roubo, formação de quadrilha e tentativa de invasão à Rocinha, que culminou com as mortes da mineira Telma Veloso, Arthur Pinto e Wellington da Silva. Dudu negou que estivesse na favela no dia da invasão e disse que na época estava sozinho na casa do seu pai, em Cabo Frio. Ele disse que desde de que saiu da prisão, em visita periódica ao lar, ficava por lá.

- Não voltei porque queriam me matar. Antes de sair, recebi por sedex um envelope com biscoitos envenenados. Todos os que comeram o biscoito passaram mal - justifica Dudu.

Em depoimento na 15ª DP, o traficante teria afirmado que, depois da invasão à Rocinha, ele esteve na Bolívia e no Paraguai. Ontem, no entanto, Dudu contou que passou cerca de um mês em Cabo Frio. Logo depois, o traficante foi para Minas Gerais, onde ficou sete meses. Nesse período, ele diz ter passado três meses num sítio, em Carandaí.

O traficante também disse que se hospedou numa pensão, em Barbacena. Durante o tempo que esteve foragido, Dudu conta que veio ao Rio por apenas uma vez. Na ocasião, ele visitou os filhos na Gávea, próximo à Praça do Jóquei e ao lado da delegacia. No interrogatório, Dudu admitiu que teve envolvimento com o tráfico na Rocinha, há 10 anos. Ao fim do depoimento, Dudu pediu para falar com a namorada. Eles tiveram um encontro por oito minutos. Enquanto estava com a namorada, o traficante recebeu a mãe e os dois filhos, por dois minutos. Apesar das declarações, o advogado Jorge de Souza, disse que as denúncias ''não passaram de um mal entendido''.

- As ameaças partiriam de traficantes da Rocinha, o que não teria sentido - diz Souza, índiretamente argumentando com o fato de que o tráfico na Rocinha seria dominado pela facção Comando Vermelho.

O delegado da 15ª DP, Rodrigo Martiniano, não foi encontrado ontem.