Título: Comemoração na saída das tropas
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 13/03/2006, Rio, p. A7

Depois de quatro dias de tiroteios consecutivos entre militares e traficantes, na Favela da Providência, no Centro, a retirada do Exército foi comemorada pelos moradores com aplausos e fogos de artifício. As tropas deixaram o morro no início da tarde de ontem. Sob os olhares atentos de homens, mulheres e crianças, os soldados desocuparam a quadra que era usada como base militar no alto da favela. O recuo dos militares precedeu a uma manhã tranqüila na região de maior resistência dos traficantes. A desmobilização das tropas já podia ser pressentida no início da manhã. Em menor número do que nos dias anteriores, os soldados entregavam folhetos com pedidos para que os moradores ajudassem na localização do armamento roubado da unidade militar. Os disparos de fuzis ouvidos por 20 minutos na madrugada não se repetiram. A revolta dos moradores que vinham acusando os soldados de excessos na atuação também estava mais contida. Apenas algumas pessoas reclamavam do último tiroteio. Aos poucos, a rotina da favela voltava ao normal.

- As caixas d' água ficaram furadas com os tiros disparados feitos pelos soldados. Os moradores do alto da favela ficaram sem água. Temos que usar baldes - protestou uma dona-de-casa.

Apesar das denúncias dos moradores, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) não constatou nenhum vazamento de água na favela. Por volta das 12h30, o acesso pela Ladeira do Barroso - que estava bloqueado para Kombis e carros - foi liberado aos moradores. Em seguida, os soldados organizaram a saída nos jipes e caminhões. Na favela, além da Polícia do Exército estavam militares da Equipe de Resgate. Eles saíram dos becos e vielas com o armamento e munição.

A movimentação dos militares chamou a atenção dos moradores que estavam em casa. Muitas pessoas saíram para a rua. Algumas delas, acompanharam a retirada das tropas pela janela. Enquanto os soldados saíam sem dizer para onde iam, os moradores perguntavam o que estava acontecendo. Depois de perceber que a favela ia se esvaziando da presença dos soldados, crianças e mulheres comemoraram.

- Hoje, todo mundo vai dormir aliviado graças a Deus eles saíram daqui - disse uma moradora.

Depois de deixar a favela, os soldados seguiram para uma unidade militar no Santo Cristo. Uma hora depois, foram disparados fogos de artifício do alto da Providência. Do quartel, era possível ouvir o barulho dos fogos. Momentos depois, cerca 300 soldados saíram em sete jipes e nove caminhões. Eles seguiram pela Avenida Brasil até a unidade militar em Deodoro.

Durante a ocupação do Exército no Morro da Providência, quatro pessoas ficaram feridas nos conflitos entre soldados e traficantes. Elas foram vítimas de balas perdidas. Uma criança de apenas 26 dias e sua mãe foram feridas enquanto estavam deitadas no quarto de casa. Um menino de 12 anos e um homem também ficaram feridos. Os tiros foram de fuzis e pistola.