Título: Ação do Tesouro derruba risco país
Autor: Fernando Nakagawa
Fonte: Jornal do Brasil, 11/02/2006, Economia & Negócios, p. A19

BRASÍLIA - O anúncio de que o Brasil começou, no mês passado, um programa de recompra de parte de sua dívida no exterior foi bem recebido pelo mercado financeiro ontem. O dólar atingiu o menor patamar desde 11 de novembro, negociado a R$ 2,165. O efeito foi melhor sentido lá fora. O risco país despencava mais de 10%, no fechamento do mercado brasileiro, para 230 pontos, assumindo o menor nível da história.

O Tesouro Nacional informou que vai recomprar títulos da dívida externa de curto prazo que estão no mercado e têm vencimento até 2010. De acordo com o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, o programa teve início em janeiro e já foram adquiridos US$ 2,3 bilhões no mercado secundário até 9 de fevereiro. Com isso, o Tesouro já cancelou cerca de US$ 773 milhões em títulos da dívida mobiliária federal externa. Os recursos para a operação saem das reservas internacionais.

O programa que está sendo levado em curso desde janeiro tem como principal objetivo melhorar o perfil da dívida brasileira e contempla a recompra dos títulos e bradies com vencimento até 2010. Atualmente, existem até US$ 20 bilhões em papéis brasileiros com essas características no mercado internacional. Segundo Levy, a idéia é aproveitar o desempenho favorável da balança de pagamentos, a boa condição da economia nacional e a forte liquidez internacional para retirar os bônus do mercado.

Essa recompra vai acontecer de forma gradual e vai respeitar as condições do mercado, explicou o secretário.

- O programa é uma prática que outros países e empresas estão fazendo. Foi como em 2005, quando fizemos a troca dos C-Bonds conforme a condição do mercado - disse durante entrevista coletiva. Ele lembrou ainda que essa recompra está prevista nos números do Plano Anual de Financiamento (PAF).

Levy observou ainda que o cronograma para os vencimentos em 2006 ''já está resolvido''.

- Mas o mundo não vai acabar em 2006. Se entrarem mais dólares, temos dívida para abater - disse.

O secretário não disse se há uma meta a ser seguida pelo Tesouro e BC para a retirada dos papéis do mercado. Também não informou qual será a economia do governo com a retirada antecipada dos títulos, mas disse que o cronograma vai continuar até, pelo menos, 31 de dezembro de 2006.

Com os dólares das reservas internacionais, o BC vai ao mercado internacional, compra os papéis, transfere os bônus para o Tesouro, que periodicamente vai cancelar o registro dos títulos que estiverem em sua carteira. Balanços serão divulgados freqüentemente em relatório do BC.

Segundo o Tesouro, as reservas internacionais somam atualmente cerca de US$ 57 bi. Já a dívida externa do governo federal está na casa dos US$ 87 bi.

A Bovespa, por sua vez, fechou em leve alta de 0,25%, aos 36.975, acompanhando movimento das bolsas americanas.