Título: Insatisfação afeta combate
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 05/02/2006, Rio, p. A25

A insatisfação dos auxiliares de controle de endemias com as péssimas condições de trabalho já afeta o combate ao mosquito da dengue no município. Em protesto, alguns agentes trabalham em ritmo lento. A operação tartaruga começou a ser deflagrada em meados do ano passado na Zona Sul. Por várias vezes, segundo os agentes, a decepção com a estrutura no trabalho diminui o número de 20 casas que deveriam ser visitadas no dia para apenas duas. - Para exigir um bom trabalho de campo é preciso produto para a esterilização dos utensílios de coleta das larvas, além de lanterna, lápis e borracha custeados pela prefeitura - justifica um agente, informando que recebe salário de R$ 669, auxílio transporte de R$ 79, 20 e R$ 5 para o almoço.

Os agentes contam que durante os surtos da doença são deslocados dos seus bairros de atuação, mas não ganham dinheiro para a passagem extra. Para escapar das transferências de setor, os auxiliares de endemias faltam ao trabalho e justificam com atestado médico. As ausências chegam a 80% do quadro.

A carência de profissionais, segundo os agentes, ano passado, levou a prefeitura a fazer um ranking dos quarteirões mais infestados. Mas os agentes contam que muitas casas deixaram de ser visitadas.

- Nos meses em que fazemos o levantamento, não há tratamento. Visitamos um imóvel e pulamos dez. Temos que ver o foco do Aedes e dar tchau para ele - indigna-se um agente.

Segundo os mata-mosquitos, apesar da orientação da prefeitura de não tratar os focos nos meses em que o levantamento é feito, eles levam o larvicida escondido para evitar imprevistos. Eles acreditam que o trabalho em duplas seria mais eficiente.

- Se vamos fazer o levantamento numa área de tráfico e não aplicarmos o larvicida, eles (os traficantes) falam que estamos xnoveando (espionando) - explica o agente, ressaltando que as ações nas favelas só ocorrem durante mutirões.

De acordo com o epidemiologista Roberto Medronho da UFRJ há uma orientação do Ministério da Saúde de se fazer o Levantamento de Índice Rápido de Aedes aegypti (Lira), em alguns municípios, apenas uma vez por ano. Medronho ressalta que novas experiências no levantamento de índices e combate ao mosquito são necessárias, mas precisam ter seus resultados avaliados.

A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde informou que a verba repassada pelo Ministério da Saúde para atuações epidemiológicas no município é de cerca de 17 milhões. Da dotação, R$ 11 milhões são destinados para ações de combate à dengue, entre elas, gastos com manutenção.