Título: Fim da novela das termelétricas
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2006, Economia & Negócios, p. A17

Petrobras compra usinas que deixaram prejuízo de US$ 1 bi

Herdeira do maior prejuízo do último racionamento de energia, em 2001, a Petrobras encerrou o imbróglio com as usinas termelétricas. A estatal conseguiu evitar prejuízo de US$ 1,1 bilhão, mas teve que pagar US$ 1 bilhão para honrar contratos assinados sob a chancela do então ministro Pedro Parente, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os contratos admitiam que as térmicas, avaliadas em US$ 800 milhões, abocanhassem US$ 2,1 bilhões numa espécie de seguro aos investidores. O valor das usinas equivalia a um terço de suas garantias. De acordo com a Petrobras, ficava mais barato comprar as térmicas do que levar os contratos até o fim, previsto para 2008. Assim, a estatal anunciou ontem a aquisição da Macaé Merchant, da El Paso, depois de uma negociação que se arrastou por dois anos. Foi a conta mais amarga da estatal: pagou US$ 357 milhões pelo negócio - metade dos US$ 735 milhões que ainda pagaria se não tivesse comprado a unidade. O valor total do contrato assinado na época da escassez de eletricidade garantia US$ 1,4 bilhão ao investidor.

- Se eu pudesse eu teria pago zero, mas eles queriam tudo - afirmou o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, ao comentar a compra das três térmicas do tipo merchant, que causaram prejuízo bilionário à Petrobras nos últimos três anos.

Diferentemente de analistas do setor de energia, o executivo evitou criticar os responsáveis pelos contratos. O negócio é alvo de investigação conduzida pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

- A Petrobras não tem uma posição sobre isso. Teve ação e resolveu - esquivou-se.

Indagado sobre as perdas provocadas pela contratação das térmicas, além do gasto total de US$ 658 milhões para adquiri-las, Sauer respondeu que não havia escolha.

- O que fizemos foi cumprir pagamentos. Contratos previam que, se a venda de energia não alcançasse a receita prevista inicialmente, a Petrobras teria que pagar participações de contingência, mas esses pagamentos se tornaram rotineiros, o que obrigou os gestores da Petrobras a encontrar um equilíbrio, um consenso.

O consenso com os donos das térmicas não foi fácil, com exceção da Eletrobolt, da falida empresa americana Enron. A quebra do principal investidor facilitou as negociações e a estatal acabou conseguindo comprar a usina por US$ 164 milhões logo no início do governo Lula, em 2003. Pelo contrato, a estatal teria de desembolsar um total de US$ 414 milhões, sem ficar com a térmica.

A Termoceará foi outra disputa. A MPX, do empresário Eike Batista, acirrou a briga e exigiu depósito das garantias em juízo. Passada a briga, as duas selaram paz com o pagamento de US$ 110 milhões. Pelo contrato, a estatal deveria desembolsar ainda US$ 177 milhões sem ficar com a usina, conhecida no mercado como Termoluma, em referência à ex-mulher do investidor, a modelo Luma de Oliveira.