Título: Brasil continua no comando
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/01/2006, Internacional, p. A7

Governo indicou sucessor de general morto, que precisa ser aprovado pela ONU

PORTO PRÍNCIPE - O corpo do comandante das forças da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), o general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar, encontrado morto no sábado com um tiro na cabeça, deve chegar hoje ao Brasil. Apesar de o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, afirmar que não havia previsões para a data do traslado - que dependia da conclusão da perícia -, havia informações de que o corpo teria sido congelado, ao invés de embalsamado, para não atrasar o embarque, que seria feito ainda ontem. O governo brasileiro já indicou à ONU o general José Elito Carvalho de Siqueira para substituir Bacellar na liderança das forças de paz multinacionais.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a indicação de Siqueira foi feita depois que a ONU recomendou a permanência do Brasil à frente das forças de paz, durante uma teleconferência entre representantes dos países que compõem a Minustah e o chefe diplomático da missão, Juan Gabriel Valdés, além do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza. A aprovação do novo comandante, no entanto, é feita pela ONU. O cargo está sendo ocupado interinamente pelo general chileno Eduardo Aldunate.

O candidato José Elito Siqueira comandou uma Brigada de Infantaria de Selva em Tefé, no Amazonas, foi diretor de Cadastro e Avaliação do Exército e chefe da segurança do Palácio do Planalto durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Atualmente serve na VI Região Militar, em Salvador.

O Brasil está à frente das forças militares da missão de paz desde junho de 2004, e , segundo o Ministério da Defesa, os 1.496 soldados do país que estão no Haiti formam o maior contingente brasileiro enviado ao exterior desde a II Guerra Mundial.

Ontem, cerca de 300 pessoas participaram de um ato solene em homenagem a Bacellar. A cerimônia foi realizada no hospital militar argentino da Minustah, em Porto Príncipe. Representando o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o diplomata chileno Gabriel Valdés expressou suas condolências à família do militar e ao governo brasileiro:

- Quero dizer a todos os brasileiros que compartilho sinceramente sua pena e sua dor, e que a Minustah continuará cumprindo o mandato do Conselho de Segurança das Nações Unidas com a incumbência que a comunidade internacional assumiu com o país.

Entre outras autoridades, estiveram presentes também o ministro de Relações Exteriores do Haiti, Herrad Abraham, o embaixador brasileiro no país, Paulo Cordeiro, e o comandante interino, Aldunate.

Segundo fontes da ONU, a equipe de perícia, formada por investigadores brasileiros e especialistas da ONU, teria concluído que Bacellar, de 57 anos, cometeu suicídio. Mas nem o Exército nem o governo brasileiro confirmam a informação.

A missão brasileira enviada ao país é composta por um delegado, dois peritos da Polícia Federal, um médico do Instituo Médico Legal (IML) do Distrito Federal, um general e um coronel do Exército Brasileiro, um representante da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e um promotor do Ministério Público Militar.

Em meio à instabilidade política do país e ao aumento da violência, que se agravaram com a morte do general, o conselho eleitoral do país anunciou ontem o adiamento, pela quarta vez, das eleições presidenciais, agendadas agora para o dia 7 de fevereiro.