Título: Empresário se nega a dar informações
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 04/01/2006, País, p. A3

Em um depoimento considerado frustrante pelos integrantes da sub-relatoria de contratos da CPI dos Correios, o empresário Carlos Alberto Taveira Cortez se recusou a responder perguntas feitas pelos parlamentares. Munido de habeas corpus parcial concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Cortez fez uso do seu direito de não assinar o termo de compromisso da CPI e recusar a responder o que lhe era perguntado.

O empresário, que é sócio da Cortez Cambio e Turismo, já esteve preso por cinco meses e responde a processo por lavagem de dinheiro, evasão fiscal, gestão fraudulenta e formação de quadrilha. Sua empresa é investigada pela comissão por suposto envolvimento irregular com a Skymaster, que faz o serviço de transporte aéreo para os Correios e Telégrafos.

Diante da recusa de Cortez em responder, o relator da sub-relatoria de contratos, deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP), decidiu pedir a transferência do sigilo de Justiça do processo a que responde o empresário. O requerimento para esta transferência só será votado na próxima reunião administrativa da CPI, dia 10 de janeiro.

Cortez chegou a negar, no depoimento, ser amigo de João Marcos Pozzeti, diretor da Skymaster, e afirmou que só o conhece socialmente. Ele disse ainda que nunca prestou serviços de câmbio para a empresa aérea. Sobre o fato de o seu motorista e segurança, Francisco Marques Carioca, ter feito saques na ordem de R$ 3 milhões nas contas da Skymaster, Cortez afirmou desconhecer o fato até a denúncia feita pela CPI e ameaçou demitir o motorista.

Após ouvi-lo, o deputado José Cardozo disse que vai apresentar um requerimento para convocar novo depoimento de Pozzetti, que já esteve na CPI. Também deverá ser convocado o ex-diretor de Operações dos Correios, Carlos Lima Sena, acusado de receber propina de uma transportadora em troca de benefícios em licitações da estatal.

Ainda ontem, o chefe do departamento financeiro da Skymaster, Reginaldo Reges Meneses Fernandes, confirmou ter feito vários saques que totalizaram R$ 1.3 milhões de reais e declarou que estes recursos, pelo que ele sabia, se destinava ao pagamento de funcionários e fornecedores da Skymaster. Segundo Reges, ele nunca recebeu seu salário em espécie e não sabe dizer quais funcionários da empresa recebem em dinheiro. Indagado sobre os fornecedores que recebiam em dinheiro da Skymaster, Fernandes lembrou da Force Filds, empresa com sede Ilhas Virgens Britânicas e sob investigação.

A assessoria de imprensa da Skymaster divulgou nota afirmando que não há qualquer irregularidade nos saques realizados por funcionários. ''A empresa continua à disposição para os esclarecimentos que se fizerem necessários, relacionados a detalhes da operação, comuns a qualquer companhia aérea, mas pouco compreensíveis para leigos, inclusive com relação aos altos valores operados'',diz a nota. (FP)