Título: Cientistas desvendam metástase
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Fonte: Jornal do Brasil, 08/12/2005, Internacional, p. A12

Cientistas desvendaram o processo de metástese, ou seja, como o câncer se espalha para outras partes do corpo. A pesquisa vai ajudar a descobrir onde é mais provável que surja um tumor no organismo, possibilitando, no futuro, bloqueá-lo.

Pesquisadores americanos descobriram que, antes de uma célula cancerosa se separar de um tumor e viajar pela corrente sanguínea até um outro órgão, onde forma um segundo tumor, o câncer envia as chamadas células hematopoiéticas - espécie de ''emissários'' que vão preparar o novo local de infecção.

A interceptação desses mensageiros, ou o uso de remédios para impedir que atuem, pode ajudar a evitar a disseminação da doença ou a tratá-la em pacientes nos quais o processo já tenha se iniciado.

- Estamos, basicamente, olhando para os passos iniciais da metástase, que antes não conhecíamos. O processo é complexo, mas estamos abrindo a porta para todas as coisas que acontecem antes de as células de um tumor se fixarem - explicou David Lyden, da Universidade Cornell, em Nova York. - É um mapa de onde vai aparecer a metástase - acrescentou.

A habilidade do câncer de colonizar outros órgãos é o que o faz ser tão mortal. Uma vez disseminado para além de seu ponto de origem, a doença torna-se muito mais difícil de ser tratada.

No estudo, divulgado pela revista Nature, Lyden e seus colegas descrevem o que acontece no organismo antes da chegada das células cancerosas em um novo local.

- As células do tumor podem mobilizar células normais da medula óssea, obrigando-as a migrar para regiões específicas e mudar o ambiente nesses locais a fim de que criem as condições para o avanço da metástase - detalhou Patricia Steeg, do Instituto Nacional do Câncer (EUA).

As células da área da metástase multiplicam-se e produzem uma proteína chamada fibronectina, que age como uma cola ao atrair e prender células da medula óssea a fim de criar uma área de pouso para células cancerosas. Sem essa área, explicam os cientistas, as células cancerosas não conseguiriam colonizar um novo órgão.

- É a primeira vez que alguém descobre o que chamamos de nicho pré-metastático - afirmou Lyden.

Os cientistas analisaram como os cânceres de mama, de pulmão e de esôfago se disseminam, em animais e em laboratório. Os emissários enviados pelo tumor determinam o local onde surgirá um novo foco da doença.

Segundo Lyden, medir a quantidade de uma determinada célula da medula óssea na corrente sanguínea pode ajudar a descobrir onde é mais provável que surja um novo foco de câncer.

- Se conseguirmos entender todos esses processos, podemos desenvolver novos remédios para bloquear um passo ou outro dele - acrescentou.