Título: Água sobrecarrega veículos
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 20/11/2005, Economia & NEGÓCIOS, p. A19

Uso de corantes no álcool anidro começa em 40 dias

Os problemas causados na parte mecânica dos automóveis que consomem álcool demoram a aparecer na parte mecânica. Isso porque esses carros já vêm preparados para processar um percentual de água - o que vem no álcool legalmente hidratado. Mas, abastecido com esse produto, se a quantidade de água for superior a 7%, o carro começa a falhar, explica o professor de engenharia mecânica da Universidade de Campinas (Unicamp), Celso Arruda. Segundo ele, o álcool diluído provoca uma sobrecarga na bomba de combustível, podendo causar superaquecimento do veículo. - A hidratação ilegal traz problemas porque é feita com água de torneira, que contém cloro. Mas existe um grau de profissionalização nas fraudes. Eles são capazes de contrabalancear as características do álcool que são prejudicadas pela água irregular. Num esforço para coibir a fraude, a ANP espera iniciar ''em, no máximo, 40 dias'' o programa de adição de um corante alaranjado no álcool anidro, aprovado no início deste mês após consulta pública. Assim, a cor denunciaria o produto ilegalmente hidratado. - Há um ano e meio, fomos procurados pela Anfavea (Associação Nacional Fabricantes de Veículos Automotores), que estava preocupada com a incidência elevada de problemas na injeção de veículos a álcool ainda no prazo de garantia, verificada nas revisões. Eles colheram algumas amostras e verificaram muitas não-conformidades. Decidimos, então, atuar de forma mais incisiva - explica Maria Antonieta. - Precisamos combater essa prática inclusive para preservar o Brasil, em um momento em que as exportações do produto crescem, devido à busca mundial por um combustível mais barato e menos poluente. O corante deverá ser aplicado pelos usineiros, que terão, ainda, de guardar amostras dos produtos comercializados. De acordo com o diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), maior entidade representativa dos produtores no país, Antônio de Pádua Rodrigues, ao contrário do que dizem a ANP e os postos, teve apoio do setor. - Fizemos grandes investimentos na produção de álcool e não temos interesse de que isso ocorra, porque prejudica a imagem do produto, cujo consumo está em franca ascensão. Apoiaremos o programa e arcaremos com o custo de sua implantação integralmente, decorrentes da criação de processos internos de controle - afirmou, sem saber informar qual será o custo do programa. Em 2004, dos 17,4 bilhões de litros de álcool produzidos, 2,4 bilhões de litros, ou 16%, foram exportados. O professor Arruda, da Unicamp, teme que a medida seja insuficiente para eliminar o problema. - Não duvido que, daqui a pouco, eles consigam neutralizar o corante. A ANP deveria obrigar todo o álcool a passar pelas refinarias da Petrobras, para aumentar o controle.