Correio Braziliense, n. 21754, 08/10/2022. Política, p. 2

Ex-presidente reitera ser contra aborto



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu, na segunda fase da corrida eleitoral, encarar um dos temas mais polêmicos para sua campanha: o aborto. Na volta da propaganda eleitoral no rádio e na tevê, a campanha veiculou uma peça publicitária na qual o candidato ao Planalto diz ser contra o procedimento. O vídeo, de 30 segundos, se encerra com a frase: “Lula é a favor da vida”.

“Não só eu sou contra o aborto, como todas as mulheres com quem eu casei são contra o aborto. E eu acho que quase todo mundo é contra o aborto. Não só porque nós somos defensores da vida, mas porque deve ser uma coisa muito desagradável e muito dolorida”, diz o presidenciável na gravação.

 Na manhã de ontem, em entrevista coletiva, Lula foi questionado sobre o tema e reiterou ser contra o procedimento, mas disse que a decisão tem de ser das mulheres. Destacou, ainda, que o assunto não é uma responsabilidade da Presidência da República.

“É uma resposta que já dei: sou contra o aborto. Sou pai de cinco filhos, avô de oito netos e bisavô de uma bisneta. A lei existe e a lei diz o que pode acontecer com o aborto”, frisou, antes de participar de uma caminhada em Guarulhos (SP). “Quem tem de decidir sobre o aborto é quem está grávida, que é a mulher, que tem que ter mais poder de dizer se quer ou não quer. A lei existe. Isso não é o papel do presidente da República. É papel do Legislativo e, sobretudo, é um papel que cabe muito de a gente entender que a mulher tem supremacia sobre o seu corpo”, acrescentou.

Até o primeiro turno, a campanha de Lula evitou entrar na chamada “pauta de costumes”, terreno dominado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição. Sobre isso, o candidato respondeu que “quem tem história não precisa abordar a mesma coisa todo dia”.

 

Carta a evangélicos

O petista tenta se aproximar do público evangélico em meio a acusações e notícias falsas disseminadas por bolsonaristas. Circulam nas redes notícias falsas de que o ex-presidente fecharia igrejas evangélicas, além de montagens que associam Lula ao satanismo. Por sua vez, apoiadores do petista rebatem na mesma moeda, associando Bolsonaro ao satanismo e à maçonaria, grupo malvisto pelos evangélicos.

A coordenação da campanha de Lula prepara para a segunda-feira uma “carta aos evangélicos”, com o objetivo de combater fake news, além de relembrar os feitos dos governos petistas em prol de fiéis, como a sanção da Lei de Liberdade Religiosa e a criação da Marcha para Jesus. A ideia é que o documento seja apresentado em um evento ainda a ser confirmado.

Na coletiva, Lula acusou Bolsonaro de estar “brigando com a Petrobras para que ela não aumente a gasolina até o dia 30 de outubro”. “Ou seja, ele está usando a eleição para fazer tudo aquilo que ele deveria ter feito antes. O preço da gasolina não precisava ter chegado aonde chegou”, criticou. “Como ele sabe que no meu tempo de presidente o barril de petróleo chegou a U$ 147 e a gasolina era R$ 2,60, ele agora está tentando tirar proveito eleitoral.”

Lula participou de uma caminhada pelas ruas de Guarulhos, que durou cerca de meia hora, ao lado do candidato ao governo paulista Fernando Haddad (PT) e de seu candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB).

O ex-presidente desfilou em um carro aberto e fez, assim como seus aliados, discursos no meio do caminho, exaltando candidatos locais e fazendo críticas a Bolsonaro.

O evento foi encerrado em um trio elétrico, em que Lula conclamou a apoiadores: “É preciso ficar muito atento às mentiras que vão chegar no zap. Não acreditar e não repassá-las. Quem tiver parente em outros estados, ligue para a pessoa. Este país não pode votar numa pessoa que não derramou uma lágrima pelas 680 mil pessoas que morreram de covid”. (VC)