Valor Econômico, n. 4955, 10/03/2020. Empresas, p. B2

Petrobras perde R$ 91 bi de valor de mercado na B3

Ana Carolina Neira
Raquel Brandão
Ivan Ryngelblum


As ações da Petrobras, que já vinham em queda por conta da desaceleração global decorrente do coronavírus, fecharam ontem em forte baixa. A estatal perdeu R$ 91 bilhões em valor de mercado.

Os papéis preferenciais recuaram 29,70% a R$ 16,05, já os ordinários caíram 29,68% para R$ 16,92. Foi a maior queda em um dia da estatal dentro da série histórica do Valor Data, iniciada em julho de 1994.

“A guerra de preços do petróleo deflagrada entre Rússia e Arábia Saudita chegou para jogar gasolina no incêndio”, diz Priscila de Araújo, sócia da Hogan Investimentos. Para ela, os fatos de ontem pioram um quadro que já não era dos melhores e o desempenho do papel só não será ainda pior porque a companhia já vinha passando por um importante processo de melhoria de gestão somado ao programa de desinvestimentos.

“Hoje, a Petrobras está muito mais preparada para enfrentar uma crise dessas, especialmente por possuir um nível de alavancagem muito mais saudável do que no passado. Mas ainda assim é preciso ter atenção, já que o preço do petróleo é o principal pilar de sua política de preços”, diz Priscila.

O Bradesco BBI, no entanto, já cortou a recomendação de compra para neutra e o preço-alvo das ações preferenciais de R$ 38 para R$ 23,50. O preço-alvo dos recibos de ações (ADRs) negociados em Nova York passou de US$ 18 para US$ 11. Segundo o banco, a desalavancagem da Petrobras deve levar muito mais tempo, com a alavancagem caindo abaixo de 1,5 vez após 2025. “Portanto, dividendos mais altos não devem ocorrer tão cedo”, dizem os analistas.

O corte incorpora perspectivas menos otimistas para o preço do petróleo. O banco assumiu preço médio para o Brent de US$ 35 em 2020. Nesse cenário, o banco reduziu o desconto do valor do petróleo da estatal em relação ao Brent de US$ 3 para US$ 1 por barril.

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“Como resultado, estamos incorporando um crescimento mais gradual à produção doméstica de petróleo e mantendo nossa premissa de 2,6 milhões de barris por dia em 2024. Dada a natureza arriscada dos negócios de óleo e gás em águas profundas, preferimos ser conservadores em nossas suposições de produção”, afirmam os analistas. A empresa estima 2,9 milhões de barris diários em 2024.

O banco reduziu a estimativa de receita da estatal de R$ 321 bilhões para R$ 223 bilhões em 2020; de R$ 347,2 bilhões para R$ 265,7 bilhões em 2021; e de R$ 372 bilhões para R$ 310,1 bilhões em 2022.

Já o BB Investimentos colocou as recomendações e os preços-alvo para as ações da Petrobras sob revisão. O banco tinha recomendação de compra para as ações preferenciais e ordinárias, com preços-alvo de R$ 32,20 e R$ 36,50, respectivamente. Segundo o analista Daniel Cobucci, a queda nos preços das commodities tem efeito relevante sobre a Petrobras, com consequências diretas para as receitas e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). Ele calcula que para cada variação de US$ 5 nos preços do petróleo, a Petrobras é afetada em cerca de US$ 3 bilhões.

Na avaliação de um analista do setor de óleo e gás de um grande banco, que preferiu não ser identificado, um dos riscos enfrentados pela Petrobras é ajustar-se aos preços no mercado internacional sem prejudicar sua produção e de olho nos riscos políticos. “Num primeiro momento pode parecer bom um combustível mais barato, mas isso tem impactos econômicos consideráveis, especialmente porque pode gerar uma briga com os Estados na parte tributária”, diz.

Ainda assim, o analista reforça que a Petrobras segue com bons fundamentos, apontando a importância de separar o pânico momentâneo das questões estruturais da economia brasileira. “Particularmente vejo isso como oportunidade de entrada na ação, desde que a briga entre Rússia e Arábia Saudita não dure muito tempo. ”

Para o Credit Suisse, o plano de corte de investimentos, venda de ativos e redução de dívida da Petrobras será testado. O banco, porém, destaca que o balanço patrimonial da companhia já não é mais tão frágil. “A Petrobras reduziu os níveis de investimentos, implementou várias iniciativas de economia de custos e intensificou o cronograma de vendas de ativos para se tornar mais resiliente ao ambiente de baixos preços do petróleo. ” O banco manteve recomendação de compra, com preço-alvo de US$ 21.