Título: Abin localiza plantação suspeita
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 13/10/2005, País, p. A6

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alertou a Polícia Federal (PF) para o plantio de ''epadu'', planta que pode ser utilizada para fabricar cocaína, na fronteira do Brasil com o Peru. Segundo a Abin, índios brasileiros fizeram o plantio. O relatório foi enviado para a direção da PF em Brasília. As plantações de epadu estão surgindo nas margens de afluentes dos rios. Muitos índios cultivam a planta para rituais. Segundo Polícia, ocorrem pequenos plantios também na divisa do Brasil com a Colômbia e a Bolívia. De acordo com as informações da PF, os plantios de epadu não seriam para o refino de cocaína, a plantação seria apenas para o consumo nas aldeias. Os índios torram a folha do epadu e misturam com folhas de embaúba, de onde extraem um pó grosso para mastigar.

- Os índios dizem que usam esta mistura de folhas para conversar com Deus. Parece que a mistura anestesia o estômago e eles ficam várias horas sem comer - explica um delegado da PF.

Mas a própria Polícia admite que as informações colhidas não são muito precisas, pois a área de plantio do epadu é muito extensa, indo da fronteira com o Peru até o fim da divisa com a Colômbia, acima da ''Cabeça do Cachorro''. É uma região que está a 20 quilômetros de alguns acampamentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Na década de 80 houve crescimento do plantio de epadu na fronteira. Na época, o governo desenvolveu um trabalho social e levou comida, roupa e remédios para os índios e ribeirinhos. Segundo uma das autoridades da área de drogas, alguns índios aprenderam a fazer plantios mistos de epadu com mandioca e epadu associado ao milho, o que dificulta a localização das plantas. Há índios que plantam o epadu dentro da floresta, mas a produtividade de folhas é menor, pois as plantas são pouco atingidas pelos raios solares.

A região onde são feitos os plantios é muito inóspita e dificulta o trabalho policial. Mesmo que um plantio seja localizado por satélite, há dificuldades para chegar ao local. Os índios fazem os plantios do epadu a longas distâncias da aldeia.

A folha do epadu tem menos concentração de alcalóide que a folha da coca. Significa que é necessária uma quantia maior de folhas para produzir a mesma quantidade de cocaína. Segundo a PF, a concentração de alcalóide na folha de epadu é igual a um terço da concentração na folha da coca.

A Polícia Federal descarta a existência de grandes plantios na divisa, em solo brasileiro. Grandes plantações seriam identificadas por satélites. A fronteira brasileira é área de entrada de parte da droga produzida que vem da Bolívia, do Peru, Colômbia e Paraguai. O plantio em solo brasileiro livraria os narcotraficantes do ataque de formigas, comum em solo colombiano, que causam prejuízo financeiro aos plantadores e danos ao meio ambiente.