Valor Econômico, v. 20, n. 4911, 03/01/2020. Especial, p. A10

2020 tem de ser o ano de ação no meio ambiente

Daniela Chiaretti 


A economista dinamarquesa Inger Andersen, 61 anos, pensa em 2020 como “um super ano” para o meio ambiente no mundo. A diretora-executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Pnuma (ou Onu Meio Ambiente) tem muita expectativa pelo resultado dos eventos internacionais previstos para os próximos meses. É um sentimento de ansiedade provocado por um quadro desolador, com falta de liderança climática e mais de um milhão de espécies ameaçadas.

“Tenho grande expectativa porque agora, mais do que nunca, o estado da natureza e o que seu declínio significa para a humanidade, são evidentes”, diz ela, que assumiu a Onu Meio Ambiente em fevereiro e é também sub-secretária da ONU.

Ela espera que a pauta ambiental extravase os circuitos ecológicos e contamine outros setores da sociedade. “Espero que esses eventos levem a conversa sobre biodiversidade para fora dos corredores do meio ambiente, para empresas, cadeias de suprimentos, ministérios das Finanças, provedores de infraestrutura, de desenvolvimento urbano e muitos outros.

Com mais de 30 anos de experiência em desenvolvimento econômico, sustentabilidade ambiental e na formulação de políticas públicas, Inger Andersen foi diretora-geral da IUCN (International Union for Conservation of Nature fundada em 1948), a mais famosa união de autoridades governamentais e não-governamentais do mundo preocupadas com conservação.

O agitado calendário ambiental de 2020 anima a dinamarquesa, que esteve 15 anos no Banco Mundial em várias funções, como vice-presidente de desenvolvimento sustentável e vice-presidente de Oriente Médio e norte da África.

Em junho, a IUCN realizará em Marselha seu congresso, que ocorre a cada quatro anos. O evento precede a rodada de negociação da Convenção de Biodiversidade da ONU (CBD) que acontece na China, em outubro, e, espera-se, produza algo similar ao Acordo de Paris para a proteção das espécies.

Na área climática, um encontro aguardado é o dos líderes da União Europeia e da China em agosto, em Leipzig, na Alemanha. A reunião do bloco europeu com o maior emissor de gases-estufa do mundo pode dar impulso para maior ambição às metas e animar outros a se comprometerem antes do fim do ano, quando ocorre a CoP de clima de Glasgow, na Escócia.

“Muito mais ambição e ação são necessárias e sabemos que isso será difícil e exigirá verdadeira liderança”, diz ela.

Durante a CoP 25, em Madri, Inger tuitou e gravou vídeos pedindo maior ambição aos países em suas metas climáticas e que fechassem o artigo 6 das regras do Acordo de Paris, o que trata dos mercados globais de carbono. Como se sabe, isso não aconteceu.

Na véspera da conferência, retuitou um artigo do “The Guardian” em que o autor cita os incêndios na Amazônia, Sibéria, Austrália e Califórnia e denomina a fase contemporânea da humanidade como “a era do fogo”. O retuíte da economista era claro: “Em qualquer dia, entre 10 mil e 30 mil incêndios florestais acontecem em algum lugar do planeta. Temos apenas uma única escolha racional: escolher sobreviver”.

Em artigo publicado na “Time”, em dezembro, escreveu: “As emissões de gases-estufa precisam cair mais de 7% ao ano. Temos que parar de procrastinar.”

Inger Andersen concedeu entrevista ao Valor em dois momentos. Por telefone, quando os incêndios na Amazônia estavam no auge, e por e-mail, na CoP 25, a conferência do clima em Madri, em dezembro. A seguir, trechos dos dois momentos em que ela fala de empresas, ideologias e desafios:

Valor: Em 2020 haverá o grande congresso da IUCN na França e também a rodada da Convenção da Biodiversidade na China. O que espera desses momentos?

Inger Andersen: Penso em 2020 como um super ano para o meio ambiente. As metas climáticas do Acordo de Paris entrarão em vigor, precisamos formular a moldura para protegermos a biodiversidade no pós-2020 e teremos discussões multilaterais sobre produtos químicos, resíduos e oceanos. Tenho grande expectativa porque agora, talvez mais do que nunca, o estado da natureza e o que seu declínio significa para a humanidade, são evidentes.