Valor Econômico, v. 20, n. 4821 23/08/2019. Brasil, p. A4

'Clima é de permissividade', diz governador do Amazonas

 Thais Carrança
 Raphael Di Cunto
 Marcelo Ribeiro


O país vive um clima de permissividade e sentimento de impunidade com relação ao desmatamento, disse Wilson Lima (PSC), governador do Amazonas. Segundo ele, o corte de recursos de Alemanha e Noruega para o Fundo Amazônia causa preocupação, e o Estado poderá buscar diretamente nos países os recursos para preservação. "Hoje um país vive um clima de permissividade, isso é muito complicado, porque acaba fazendo que algumas pessoas pensem que tudo é permitido", afirmou.

Quanto às declarações do presidente Jair Bolsonaro de que os governadores do Norte seriam "coniventes" com o desmatamento, Lima disse que essa afirmação não cabe ao Estado do Amazonas, que está aumentando seu esforço de fiscalização, buscando identificar e punir os responsáveis pelo desmatamento.

Quanto à acusação sem provas de Bolsonaro de que as queimadas na Amazônia poderiam ter sido feitas por ONGs, Lima afirmou que não fala sobre suposições. "Na condição de governador, eu não trabalho com achismo", afirmou.

"O que eu posso falar com relação às ONGs, é que, no Estado do Amazonas, algumas delas desenvolveram trabalhos muito interessantes e sérios. Outras desenvolveram trabalhos que deixam a desejar, mas isso cabe aos órgão de controle e a quem fez o aporte financeiro avaliar", completou.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou pelo Twitter que a Casa criará uma comissão externa para acompanhar o problema das queimadas que atingem a Amazônia e realizará um debate no plenário para "avaliar a situação e propor soluções ao governo".

"É importante para mantermos forte nossas exportações do agronegócio e preservar o nosso ambiente", afirmou.

Com essas ações, Maia se contrapõe ao presidente Bolsonaro, que acusou ONGs de promoverem queimadas para sabotar seu governo e que governadores da região Norte são "coniventes" com essa situação.

Bolsonaro também tem minimizado os efeitos do desmatamento na Amazônia, mesmo sob a pressão de outros países e até de ruralistas que temem repercussão nas exportações.

Uma comissão externa é composta por um grupo de deputados para avaliar situações específicas e propor soluções. A criação precisa ser aprovada pelo plenário.