O Globo, n. 32758, 15/04/2023. Política, p. 6

Bancada ruralista quer CPI do MST e pede prisão de Stédile

Camila Turtelli
Jan Niklas


Uma das principais forças do Congresso, a bancada ruralista pressiona o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pela abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). O bloco protocolou ainda uma pedido de prisão contra o líder do movimento, João Pedro Stédile, que viajou na comitiva de Lula para China.

A pressão dos membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) cresceu após as últimas ações do MST. Na segunda-feira, trabalhadores rurais vinculados a diferentes movimentos sociais ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Maceió, capital de Alagoas. A bancada avalia que o grupo é incitado por declarações de Stédile, consideradas como “ameaças” aos proprietários rurais, enquanto os sem-terra afirmam que farão apenas manifestações e eventuais ocupações em “latifúndios improdutivos”.

Ao anunciar ações do Abril Vermelho, tradicional mês de mobilização do grupo em prol da reforma agrária, o MST divulgou um vídeo em que Stédile afirma que, para chamar atenção às demandas dos ativistas, estão previstas ocupações no campo:

“Neste mês de abril, nosso movimento fará muitas manifestações em defesa da reforma agrária. Haverá mobilizações em todos os estados, seja marchas, vigílias, ocupações de terras, as mil e uma formas de pressionar para que a Constituição seja aplicada. E que latifúndios improdutivos sejam desapropriados e entregues para as famílias acampadas”, diz o líder do MST.

Base reage

A fala foi lida pelos ruralistas como uma “ameaça” que gera um “clima de insegurança” do campo. O grupo enviou o ofício em que defende a prisão aos Ministérios Públicos do Distrito Federal e de São Paulo, à Procuradoria Geral da República, à Advocacia-Geral da União (AGU) e ao Tribunal de Contas da União. Em nota, o deputado Pedro Lupion (PP-PR), líder da bancada, classifica as ações do MST como “crime”. Ele diz que ainda cabe ao governo Lula a responsabilidade de acalmar o movimento, historicamente aliado do atual chefe do Palácio do Planalto — Stédile está na comitiva do presidente na China.

“O presidente da República chegou a usar boné do MST na campanha, então acredito que eles possam dialogar para impedir que essas situações ocorram. Esse anúncio de cometimento de crime feito pelo líder do movimento deve ser combatido pelas autoridades”, diz Lupion.

Ao ocuparem a sede do Incra, os manifestantes pediam a exoneração de Wilson César de Lira Santos — primo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)— do posto de superintendente regional do órgão. Eles pleiteiam a indicação de um servidor de carreira para o cargo.

Em um movimento contrário à bancada ruralista, deputados da base e representantes do MST entraram em campo para barrar o avanço de uma possível CPI. Para eles, a instalação de um colegiado neste momento poderia atrapalhar o andamento de projetos considerados primordiais para o Executivo, como o arcabouço fiscal, a reforma tributária e a análise de medidas provisória, como a da reestruturação da Esplanada dos Ministérios. Lupion afirmou que já procurou Lira para pedir a CPI:

— Cada ato falho e bobagens e barbaridades que o MST apronta nos dá mais motivo e justificativas .

A abertura do colegiado depende apenas de uma decisão de Lira. No mês passado, deputados a favor da investigação conseguiram as 171 assinaturas necessárias para protocolar o pedido.

O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PT-PR), diz que a base está contra a abertura de qualquer investigação parlamentar sem fato determinado.