Título: Autoproteção
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/09/2005, Opinião, p. A16

No vasto terreno de equívocos sobre os quais obstinadamente trafega, o presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), conduziu-se por mais um erro político: a forma matreira com que criou a sindicância que vai apurar a denúncia de que teria recebido mesada para favorecer o empresário Sebastião Buani. Antes mesmo de indicar os componentes da comissão, o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio, designado por Severino para comandar a sindicância, já havia descartado a possibilidade de detectar irregularidades no contrato de concessão do restaurante da Casa. Acrescente-se a resistência em se afastar do cargo até que as investigações sejam concluídas, conforme pediram ontem os partidos que fazem oposição ao governo. É uma saída inevitável para Severino. Afinal, uma acusação grave contra o terceiro homem da República não só precisa ser esclarecida o quanto antes como sobre a investigação não deve pairar sombras perturbadoras. Acusado, Severino perde legitimidade moral para conduzir as cassações de deputados sugeridas pelas CPIs em curso. Simultaneamente, arrasta para o ralo a imagem da Câmara - já maculada por privilégios e paralisias que o próprio Severino ajudou a sedimentar.