O Estado de S. Paulo, n. 46642, 30/06/2021. Brasil é Agro, p. 4

Agronegócio ganha espaço no PIB brasileiro

Vinicius Galera


O ano de bonança para a agropecuária brasileira, com exportações e preços recordes de commodities, deve continuar a se refletir nos indicadores econômicos do País e fazer inclusive com que o setor abocanhe uma parcela maior ainda no Produto Interno Bruto (PIB) em 2021. Historicamente, o agronegócio contribui com cerca de 20% a 25% de toda a riqueza produzida no Brasil, mas, neste ano, pesquisadores acreditam que a pujança do campo deve fazer com que essa porcentagem salte para pelo menos 30%. E só não será maior por causa de um mercado interno deprimido em meio à persistente crise econômica, que produz desemprego em massa. No ano passado, conforme levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/esalq-usp) e da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a participação foi de 26,6% – ou seja, o agro avançará este ano quase 4 pontos porcentuais.

Em relação a outros setores da economia, o agronegócio também se destaca. Na semana passada, por exemplo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aumentou sua projeção de crescimento para o PIB agropecuário este ano de 2,2% para 2,6% – com avanço de 2,7% na produção vegetal e 2,5% na produção animal. E, no primeiro trimestre do ano, enquanto o PIB geral do País cresceu tímido 1% em relação a igual período de 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o mesmo indicador para o agronegócio deu um salto de 5,2%.

Mesmo com essa grande diferença, o coordenador do núcleo econômico da CNA, Renato Conchon, explica que, neste ano, o PIB da agropecuária – tudo o que se produz "dentro da porteira" –, mesmo crescendo, deve se diluir mais no PIB brasileiro, que também tem projeções de fechar no campo positivo. "A produção agropecuária deve representar 5,8% do PIB brasileiro, quando no ano passado chegou a 6%", diz Conchon.

Já para o PIB do agronegócio – que envolve a produção dentro e fora da porteira, com todas as cadeias agroindustriais envolvidas –, o coordenador da CNA também concorda que deva representar 30% do PIB do País. "Nossa previsão para este ano é de que o PIB do agronegócio cresça puxado pelos setores de grãos e carne bovina. Vimos uma safra recorde em 2020/21. A boa produção, associada à procura por commodities agrícolas no mercado internacional, elevou os preços. O produtor ficou instigado a plantar mais neste ano."

O indicador do emprego no agro também vem avançando. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), medido pelo IBGE, entre janeiro e março foram registradas mais de 65 mil novas vagas, 4% mais do que em igual período do ano passado. Segundo Conchon, o crescimento pode ser atribuído ao aumento da renda nos municípios do interior do País.

Sobretudo nos municípios de Mato Grosso, o maior produtor nacional de grãos e carne bovina – lembrando que o Brasil é o maior exportador mundial de soja e da proteína vermelha. Ou seja, se o PIB do campo vai bem, o de Mato Grosso, idem, ainda mais levando-se em conta que o agronegócio representa 50% do PIB do Estado, de acordo com o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca. "A relevância é muito alta. Isso tem uma série de impactos que podem ser positivos ou negativos na economia do Estado." Em um ano como 2021, em que praticamente tudo vai bem, ele projeta um crescimento de dois dígitos no PIB do agronegócio mato-grossense.

O aumento pode ser explicado, diz Latorraca, pela conjuntura do País, entre elas o dólar valorizado ante o real, que beneficia as exportações. Mesmo com a recente queda da moeda norte-americana, a cotação ao longo do primeiro semestre manteve-se firme acima dos R$ 5, patamar extremamente favorável aos embarques externos. "Nossa produção é voltada

A vacinação e a volta da circulação de pessoas aquecem a demanda por commodities agrícolas" Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV para o mercado externo. Dentro dessa perspectiva, o dólar acima de R$ 5 mantém a competitividade muito boa dos nossos produtos lá fora."

Segundo Latorraca, cerca de 77% do milho que está sendo colhido agora já está vendido. A soja também foi muito bem comercializada. O crescimento do etanol de milho e a agroindústria da soja operando na capacidade máxima, assim como a de carnes, ajudam a manter o setor bastante animado, mesmo com uma possível quebra no milho safrinha e com o aumento do custo de produção em alguns setores – sobretudo pela disparada dos preços dos grãos.

O único motivo de preocupação, cita o representante do Imea, é o setor de algodão, sendo Mato Grosso o maior produtor da fibra no País. A pandemia de coronavírus e o fechamento do setor de serviços atingiram os preços da pluma em Nova York e, apesar de as cotações ensaiarem recuperação, não houve tempo para os produtores mudarem de estratégia. "A área plantada de algodão de segunda safra registrou uma queda de 17%", diz o economista. "Isso já afetou o preço. Vai haver uma melhora na próxima safra, mas nesta o produtor plantou menos e com produtividade menor."

O dólar acima de R$ 5 mantém a competitividade muito boa dos nossos produtos lá fora"

Daniel Latorraca, superintendente do Imea

O produtor brasileiro ficou instigado a plantar mais nesta safra de 2020/21"

Renato Conchon, coordenador do núcleo econômico da CNA

Mesmo com a quebra da segunda safra de milho, a produção agrícola geral deverá ser boa"

Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea/esalq-usp

5,35%

foi o crescimento do PIB do agronegócio brasileiro entre janeiro e março de 2021 em relação a igual período de 2020

124 bilhões de reais

foi a riqueza gerada pelo agronegócio brasileiro no primeiro trimestre deste ano

24,31%

foi o aumento do PIB do agronegócio (que envolve a produção dentro e fora da porteira) em 2020 ante 2019

Fontes: CNA e Cepea