Título: A chocante falta de professores no ensino médio
Autor: Antônio Ermírio de Moraes
Fonte: Jornal do Brasil, 28/08/2005, Outras Opiniões, p. A11

Os números da China são sempre impressionantes. Com uma população de 1,3 bilhão de habitantes, o país cresce 9,5% ao ano. Tendo um PIB de US$ 1,3 trilhão, a China exporta US$ 325 bilhões. O país ocupa o 6º lugar entre os países de maior PIB e o 3º lugar entre as nações de maior produção industrial.

Mas a China não é apenas uma máquina de produzir e exportar. O país está recuperando os estragos da revolução cultural dos anos 60 quando os exames de admissão foram suspensos, as bibliotecas foram queimadas e os professores foram obrigados a fazer trabalhos manuais. A China está deliberada a transformar a mente do seu povo. Uma grande ênfase é dada à educação.

E aqui também os números são impactantes. O país possui 556 mil escolas públicas para crianças e adolescentes. Ao lado disso, há dezenas de milhares de escolas privadas. Cerca de 11 milhões de professores ensinam 218 milhões de alunos (''China & India'', Business Week, 22/08/2005).

Mas a grande revolução ocorre no ensino superior. O país possui cerca de 1.300 universidades. São 20 milhões de universitários, contra 16 milhões nos Estados Unidos. É o mais ambicioso projeto de expansão do ensino superior.

As universidades chinesas estão articuladas com as melhores universidades estrangeiras. A maioria dos seus 850 mil professores universitários foi educada em escolas de excelência dos Estados Unidos, Europa e Japão. A educação universitária se baseia em um tripé: teoria, prática e formação do caráter. Quase 100% dos formados começam a trabalhar imediatamente.

Trata-se de uma revolução de grande profundidade. Há 20 anos, a universidade era um privilégio da elite ligada ao Partido Comunista. Hoje, há até universidades particulares para acelerar a matrícula e a formação dos jovens chineses de todas as classes sociais (Amélia Newcomb, ''O grande salto da educação chinesa'', O Estado de S. Paulo, 07/08/2005).

Ou seja, a China representa não apenas um forte competidor no mercado de bens e serviços. O país se prepara para ter hegemonia produtiva e cultural. Os chineses sabem que o capital mais precioso dos dias atuais é um povo bem educado e, por isso, enfrentam o problema cuidando da quantidade e da qualidade do ensino. Dentro de pouco tempo, o país poderá elevar ainda mais a sua já estratosférica taxa de crescimento econômico e contar com uma das populações mais bem educadas do mundo.

O Brasil não pode ignorar esses avanços. Já somos parte de uma economia global. No entanto, entre nós, faltam 250 mil professores para o ensino médio, o que nos parece insuportável. Nos testes internacionais, nossos alunos se classificam em 72º lugar em um grupo de pouco mais de cem países. O analfabetismo funcionam chega a 60%.

Não podemos continuar assim. É imperioso melhorar a qualidade do ensino para se contar, no futuro, com uma população bem preparada para enfrentar os desafios das novas tecnologias e métodos de produzir, sem falar nas exigências da cidadania. Sim - porque educação de má qualidade compromete a democracia.

Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos no JB