Título: Bolívia leva Petrobras a reajustar gás
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 20/08/2005, Economia & Negócios, p. A19

Preços sofrerão aumentos para compensar sobretaxa do insumo importado do país vizinho

Três meses depois de deflagrada a crise que resultou na sobretaxação do gás natural produzido na Bolívia, a Petrobras anunciou um pacote de medidas que tornará o insumo mais caro a partir de setembro. Interpretada por analistas como uma forma de prevenção contra o risco de um novo racionamento de energia a partir de 2009, a iniciativa deverá render R$ 210 milhões de receita para a empresa no quarto trimestre. A Petrobras anunciou ontem que o gás boliviano ficará, em média, 13% mais caro em setembro e 10% em novembro. Na esteira do reajuste, o preço do gás produzido no Brasil ¿ que abastece Sul, Sudeste (com exceção de São Paulo) e Nordeste ¿ igualmente fixo desde 2003, sofrerá aumentos de 6,5% em setembro e de 5% em novembro.

O pacote também prevê que os valores do insumo importado passem a acompanhar a flutuação das cotações de uma cesta internacional de derivados, a partir de 1º de janeiro de 2006. Segundo especialistas, isso deverá transferir para os preços do gás natural a volatilidade das cotações do petróleo. Isso porque a empresa passará a aplicar as condições do contrato firmado com a Bolívia, o que não vinha ocorrendo devido à política de uso do insumo.

Na prática, desde janeiro de 2003, a empresa brasileira absorveu os reajustes do contrato firmado com a YPFB, a estatal boliviana, como forma de minimizar o impacto dos preços sobre o mercado consumidor. O pacote de ontem, segundo a Petrobras, deveu-se ao crescimento dos custos de exploração, produção, aquisição e transporte do insumo. Em maio, o parlamento da Bolívia ampliou para 50% os impostos sobre a produção de petróleo e seus derivados por estrangeiras instaladas no país. O impacto real sobre os consumidores brasileiros dependerá das distribuidoras estaduais de gás.

O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, atribuiu o reajuste ao desequilíbrio entre oferta e demanda de gás natural do país, que já supera a capacidade de abastecimento do mercado, já que, segundo ele, não há margem no curto prazo para expandir a oferta.

¿ Com o risco de desabastecimento de energia, a partir de 2009, o governo está procurando desaquecer a demanda de gás. Isso fará com que sobre gás para as usinas termelétricas e se reduza o risco de racionamento ¿ disse Pires.

Para o analista do Banco Brascan Luiz Caetano, os aumentos terão um impacto de R$ 210 milhões na receita da Petrobras no quarto trimestre. O gás, segundo ele, representa cerca de 7% dos volumes vendidos pela empresa e 4% de sua receita. O gás da Bolívia responde por 63% das vendas totais. Ele ressaltou, porém, que, ¿apesar de positivo no curto prazo, os aumentos deverão limitar a expansão das vendas¿, que, desde 2002, crescem a uma média anual de 17,5%.

No cenário internacional, o petróleo voltou a subir ontem e fechou cotado a US$ 65,35 em Nova York, alta de 3,3%. Em Londres, o barril tipo Brent encerrou o dia valendo US$ 64,36, alta de 3,1%.