Título: Emergências à beira do colapso
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 17/08/2005, Rio, p. A13

Em cinco grandes hospitais públicos do Rio, tomógrafos não funcionam. Falta de equipamentos é mais grave na Zona Oeste

Cinco grandes hospitais públicos do Rio estão com os tomógrafos quebrados ou em manutenção. As unidades não podem receber pacientes com politraumatismos, como as vítimas de acidentes de trânsito e baleados na cabeça. A situação é mais grave na Zona Oeste: três hospitais da região, dos quais dependem cerca de 1, 5 milhão de pessoas, estão com problemas nos tomógrafos. Por causa do atendimento restrito, as ambulâncias percorrerem longos caminhos para transporte da vítima. Segundo o vereador Carlos Eduardo (sem partido), vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara, o retardo do diagnóstico e o tratamento pode levar à morte do paciente. Os tomógrafos apresentam problemas nos hospitais estaduais Rocha Faria, Albert Schweitzer, Pedro II, Carlos Chagas, além do municipal Souza Aguiar. De acordo com o vereador Carlos Eduardo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que para cada 500 mil habitantes deve existir um tomógrafo. A população do município é cerca de seis milhões de pessoas. No entanto, Carlos Eduardo ressalta que, apesar de atender a regra mundial em números de tomógrafos, os hospitais públicos não mantêm todos os equipamentos em funcionamento.

- Esta regra não pode ser aplicada para os hospitais públicos do Rio. A cidade tem como particularidade várias vítimas de acidente de trânsito nas vias expressas e muitos baleados. Eles representam 80% dos atendimentos feitos nestas unidades - explica Carlos Eduardo.

Segundo o vereador, no Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, falta filme para revelar a tomografia. Os pacientes não podem levar o resultado do exame para casa. Ele lembra que no Rocha Faria um tomógrafo não foi instalado porque a rede elétrica não era compatível.

- O aparelho ficou guardado por quase dois anos. Os pacientes usavam o tomógrafo como banco para se sentar, enquanto faziam ligações no orelhão - conta o vereador.

Segundo Adelson Alípio, presidente do Conselho Distrital de Saúde da área que abrange Santa Cruz, Paciência e Sepetiba, um outro tomógrafo que vinha sendo usado no Rocha Faria está quebrado há 20 dias.

- Além de não atender as vítimas que chegam nas emergências com traumatismo craniano, os hospitais da Zona Oeste também não estão atendendo os pacientes internados que precisam dos tomógrafos - lamenta Alípio acrescentando que as ambulâncias também não são suficientes para transportar os pacientes.

No Albert Schweitzer, em Realengo, além da falta do tomógrafo, segundo Carlos Eduardo, a emergência não tem CTI. Os pacientes que precisam do aparelho estão sendo transferidos para os hospitais Salgado Filho, Andaraí, Miguel Couto e Lourenço Jorge.

- Em algumas unidades que têm o tomográfo, faltam neuro-cirurgiões. Há casos que os aparelhos são muitos antigos, como no Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. O Rio vai sediar os Jogos Pan-Americanos, como vamos atender os turistas e atletas com esta estrutura? - critica o vereador.

O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, acredita que as falhas nos equipamentos são resultado de uma política administrativa inadequada.

- Não há manutenção preventiva ou corretiva - explica Darze.

No Hospital Souza Aguiar, principal emergência do Rio, o tomógrafo está quebrado há mais de 20 dias. A Secretaria Municipal de Saúde SMS garante que o conserto do aparelho já foi providenciado. Segundo o estado, já foram solicitados os reparos nos tomógrafos dos hospitais Albert Schweitzer, Pedro II e Carlos Chagas. No Rocha Faria, um aparelho novo está funcionando em fase de testes.

O presidente da comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, deputado Paulo Pinheiro (PT), lembra ainda que, por falta de pagamento, as empresas deixaram de fornecer próteses para cirurgias ortopédicas e vasculares na rede municipal. De acordo com ele, cirurgias estão sendo canceladas nos hospitais Lourenço Jorge, Souza Aguiar, Salgado Filho e Miguel Couto.

- Mais de duas dezenas de pacientes já deixaram de serem atendidos nestas unidades - informa o deputado.

Segundo o município alguns hospitais da rede passaram por dificuldades no fornecimento por ''problemas burocráticos com as empresas''. A situação já teria sido regularizada.