O Globo, n. 32780, 07/05/2023. Mundo, p. 25

Aporte para Amazônia “não é suficiente”, diz Lula

Vivian Oswald


Após viagem de menos de 24 horas ao Reino Unido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cobrou, em coletiva de imprensa ontem, mais recursos dos britânicos (que anunciaram aporte de R$ 500 milhões para o Fundo da Amazônia) e de outros países ricos para a proteção das florestas tropicais e o combate à mudança do clima. Ele contou que foi questionado diretamente pelo rei Charles III sobre ações para a proteção à Amazônia ("foi a primeira coisa que ele me perguntou"), e respondeu com a ênfase na necessidade de ajuda de outras nações para poder cumprir a tarefa. O petista se encontrou durante a cerimônia de coroação do monarca com vários chefes de Estado, entre eles o presidente da França, Emmanuel Macron, com quem combinou conversa telefônica em breve "para discutir os caminhos de paz para a guerra na Ucrânia".

— Aproveitei que o Macron estava aqui. Quero ter com ele a mesma conversa que tive com a China. Porque alguém nesse mundo tem que se preocupar com a paz — afirmou. — Alguém nesse mundo vai ter que tomar uma decisão de tentar convencer os que estão em guerra a pararem essa guerra para sentar em uma mesa e negociar.

Lula e Macron estiveram juntos na recepção oferecida pelo Palácio de Buckingham, e ficaram lado a lado na Abadia de Westminster durante a coroação. O presidente brasileiro também aproveitou para conversar com lideranças asiáticas e africanas.

Amorim Kiev

Segundo apuração do GLOBO, o secretário especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, que esteve com o presidente russo, Vladimir Putin, vai à Ucrânia como enviado especial de Lula no próximo dia 10, onde se encontrará com o presidente Volodymyr Zelensky. Ainda segundo a apuração, a data foi escolhida pois Amorim estará em Paris no dia anterior para a celebração da vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, e de lá seguirá para a capital ucraniana.

— Essas conversas são que nem palavras cruzadas. Vamos juntando e veremos quais palavras permitirão que as pessoas sentem ao redor de uma mesa. E, para isso, as pessoas têm que parar de atirar. Esse é o meu dilema —disse Lula.

Macron tem boa relação com o presidente chinês, Xi Jinping, e é hoje o principal defensor de uma União Europeia mais autônoma dos EUA em sua política externa e defesa. Lula também tratou da Ucrânia na conversa com o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak. Após o encontro, foi publicada uma declaração conjunta dos dois países com avaliação de que “enquanto as forças da Rússia permanecerem na Ucrânia é impossível para o país encontrar a paz”.

Fundo Amazônia

Sobre a Amazônia, após ser informado por um jornalista de que a doação britânica para o Fundo Amazônia havia sido anunciada na sexta-feira e era de R$ 500 milhões, e questionado se seria suficiente, Lula foi taxativo:

— Não é suficiente. É que não posso sair de uma reunião com um primeiro-ministro, um presidente, dizendo "o cara prometeu R$ 10, prometeu R$ 20". Não é decente da minha parte fazer isso — afirmou Lula.

— Quero é que eles cumpram a promessa de US$ 100 bilhões para os países protegerem suas florestas, os que (as) têm ainda. É por isso que vou na COP cobrar isso, é por isso que eu defendo uma nova governança global.

Cooperação bilateral

O presidente Lula, que começou suas declarações lembrando das boas relações que teve com o Reino Unido em seus dois primeiros governos, disse que convidou Sunak para visita ao Brasil e que esperava que o "jovem" premier conservador tenha "sucesso e tire o Reino Unido da situação em que está", referindo-se à crise econômica no país. Segundo Lula, há muitas oportunidades para aumentar a cooperação entre os dois países, que cresceram mais após os britânicos abandonarem a União Europeia.

— Vamos criar um grupo de trabalho para discutir como podemos trocar mais bilateralmente —disse ele. Lula disse que ainda não terminou seu périplo pela maiores economias do mundo , e afirmou que deseja conversar em breve com o presidente indiano, Narendra Modi.