Título: Alzheimer já atinge mais de meio milhão
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Fonte: Jornal do Brasil, 30/07/2005, Brasília, p. D8

Esquecer nomes, colocar sal no café em vez de açúcar, deixar o fogão aceso. A princípio essas são situações constrangedoras, mas costumam servir de alerta, pois são os primeiros sintomas do mal de Alzheimer. Uma doenças degenerativa do cérebro que se manifesta principalmente entre a população mais velha e atinge cerca de 25 milhões de pessoas em todo o mundo. A mãe da geógrafa Hidely Rizzo entrou para as estatísticas há dois anos e meio. A descoberta da doença foi um choque para a família.

- O primeiro sofrimento é pela desinformação. Quando comecei a ler sobre Alzheimer, foi ainda mais assustador. Cheguei a um ponto em que decidi parar de ler e viver um dia de cada vez - conta.

Para ela, o mais difícil é aceitar a demência.

- Às vezes me pego pensando: o Brasil tem tantas necessidades e ignora uma faixa enorme da população que poderia produzir, mas está relegada ao abandono ou a ociosidade. É preciso criar políticas publicas voltadas para o idoso - defende.

Apoio - Hidely Rizzo encontrou apoio no grupo Conviver que reune familiares, cuidadores e amigos de portadores de síndromes demenciais, entre elas, o Alzheimer. Uma vez por mês eles se reúnem no auditório I do prédio da administração do Hospital Universitário de Brasília, na L2 Norte. Este mês o encontro será amanhã, com o tema Doença de Alzheimer - dos primeiros sinais à fase avançada, comentado pelo geriatra da UnB Einstein de Camargos.

A coordenadora do grupo, Cleide Faria da Silva, recomenda às pessoas que convivem com a doença a participar desse tipo de debate por uma série de motivos.

- A família se defronta com uma série de dúvidas sobre como cuidar da pessoa e precisa aprender a não se descuidar de si próprio. Sem falar que a expectativa de vida dos brasileiros tem crescido e a sociedade inevitavelmente vai enfrentar problemas da idade avançada - afirma.

Morte - De acordo com o grupo Conviver, o mal de Alzheimer é considerado a terceira causa de morte nos países desenvolvidos, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares e o câncer. No Brasil, estima-se que a doença atinja por volta de meio milhão de idosos.

Paulo Vicente Souza Lima sempre esteve envolvido com teatro e foi um dos fundadores da Faculdade de Ciências Econômicas de Uberaba (MG). O Alzheimer se manifestou há 10 anos, quando ele tinha 65. Desde então, a mulher dele, Maria José Dolabella Lima, está sempre ao lado.

-Nunca disse ao Paulo que ele estava doente. Sempre o tratei com a maior naturalidade possível. Mas no fundo sei que, em alguns momentos, ele percebia o que estava acontecendo - relata.

Maria José ainda se lembra do dia em que o marido a perguntou como se escrevia sessenta. Mas a imagem mais marcante foi quando ela lhe entregou um jornal e depois percebeu que o marido o lia de cabeça para baixo.

- Logo ele que sempre foi um intelectual, um homem a frente do seu tempo, passar por isso. É preciso ter muito amor, paciência e muita atenção. Porque um dia a gente vê que ela não tem forças para andar. No outro, ela já não fala, e um dia está na cama de um hospital como hoje - relata emocionada.