O Globo, n. 32792, 19/05/2023. Política, p. 5

Aliados traçam nova estratégia para dar sobrevida a Deltan

Malu Gaspar
Rafael Moraes Moura


Diante de um cenário adverso no Supremo Tribunal Federal (STF), aliados de Deltan Dallagnol (PodemosPR) apostam agora em uma solução a curto prazo dentro da própria Câmara para dar alguma sobrevida ao mandato do parlamentar paranaense, cassado por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anteontem.

Como os primeiros sinais que vieram do Supremo são de que os ministros não estão dispostos a derrubar a decisão do TSE, aliados de Deltan decidiram concentrar a estratégia, pelo menos neste momento, na Mesa Diretora da Câmara, onde avaliam ter mais chances de ganhar tempo.

Congressistas próximos de Deltan acreditam poder reunir o apoio de ao menos três dos sete integrantes da Mesa, que são evangélicos e alinhados à direita. Um quarto membro, Luciano Bivar (PE), teria que ser convencido pelo senador Sergio Moro (PR), que é do mesmo partido, o União Brasil.

Nos bastidores, eles tentam convencer o corregedor da Câmara, Domingos Neto (PSD-CE), a quem a decisão do TSE já foi encaminhada, de que o cancelamento do registro de candidatura de Deltan ocorreu fora do prazo máximo estabelecido por lei, e que portanto haveria espaço para a contestação da decisão.

Caso Neto encampe o argumento e a maior parte dos sete membros Mesa da Câmara concorde, ele poderia manter Deltan em seu gabinete enquanto ele estiver recorrendo da cassação ao Supremo.

Os primeiros sinais do corregedor sobre o assunto, porém, não foram animadores. Neto já avisou que a atuação do órgão é apenas de avaliação formal da atuação da Justiça Eleitoral, sem avançar numa “análise de mérito, recomendações, nem critérios opinativos”.

Espírito de corpo

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também já sinalizou que não deve capitanear nenhuma articulação política para salvar o ex-procurador. Deltan já foi acusado por parlamentares de ter ajudado a “criminalizar a política” na época em que coordenou a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.

A Mesa Diretora é composta por Lira e os deputados Marcos Pereira (Republicanos-SP), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Luciano Bivar (União-PE), Maria do Rosário (PT-RS), Júlio Cesar (PSD-PI) e Lucio Mosquini (MDB-RO). Dos sete, três são evangélicos, assim como Deltan: Sóstenes, Marcos Pereira e Mosquini.

Um dos argumentos para sensibilizar os deputados é a de que não se de trata de salvar a pele de um ex-procurador da Lava-Jato, e sim de zelar pela autonomia da Câmara, apelando ao espírito de corpo do Congresso.

A ideia é convencer os outros parlamentares de que o endurecimento do TSE na aplicação da Lei da Ficha Limpa pode se voltar contra qualquer um deles.

O TSE considerou que Deltan pediu exoneração do cargo de procurador para evitar punição administrativa que poderia torná-lo inelegível, o que é vedado pela Lei da Ficha Limpa.

Deltan ainda pretende acionar o Supremo para suspender os efeitos do julgamento do TSE, mas, conforme informou a coluna de Malu Gaspar, do GLOBO, na última terça-feira, dentro da Corte uma reviravolta é considerada “quase impossível”.