Título: BNDES troca crédito por emprego
Autor: Samantha Lima e Guilherme Arruda
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2004, Economia & Negócios, p. A-20

Banco fecha primeiro financiamento de nova linha que estimula geração de postos de trabalho e renda

A Vulcabrás do Nordeste S.A. é a primeira empresa a obter financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) dentro do Programa de Apoio ao Fortalecimento da Capacidade de Geração de Emprego e Renda (Progeren). Criada há pouco mais de um mês, a linha de crédito oferecerá capital de giro a empresas mediante o compromisso de ampliação do quadro de funcionários. Coligada à Grendene S.A. uma das maiores fabricantes de calçados do país, a Vulcabrás entrou com pedido de financiamento de R$ 35 milhões. Como contrapartida, se comprometeu a ampliar em 4,3% o número de postos de trabalho de sua fábrica em Horizonte, município de 33.790 habitantes no interior do Ceará. A unidade terá um ano para criar 301 empregos diretos, ampliando para 7.320 seu número de funcionários.

O Progeren dispõe de R$ 2,5 bilhões, dos quais serão destinados R$ 1,2 bilhão para empresas de grande porte, com pedidos de financiamento acima de R$ 10 milhões, e R$ 1,3 bilhão para empresas de pequeno e médio porte - por meio de bancos de varejo.

O financiamento não influenciará a oferta de ações da Grendene, que é coligada - ou seja, tem participação superior a 10% no capital, sem deter o controle acionário - à Vulcabrás, avaliam especialistas. A empresa gaúcha estreará na Bolsa de Valores em 29 de outubro, no Novo Mercado - nível mais elevado de classificação, para empresas que se comprometem a adotar práticas transparentes.

- A Grendene é uma empresa altamente geradora de caixa, com faturamento anual da ordem de R$ 1 bilhão por ano. Esse financiamento concedido à sua coligada não faz diferença em seu caixa - avalia Nami Nenneas, superintendente de renda variável do Banif Investment Banking.

O volume de operações por meio do Progeren, no entanto, deverá ficar em R$ 800 milhões, segundo estimativas do BNDES. Os motivos são a prolongada greve dos bancários, notadamente do Banco do Brasil, principal parceiro do programa, e o spread cobrado pelo BB, atualmente ao redor de 20%.

- Há uma grande diferença entre o que o BNDES e o Banco do Brasil colocam de spread nos contratos. Da forma como está, a nossa taxa fica 1,4 ponto percentual menor em relação à que o BB cobra - reconheceu o diretor do BNDES Maurício Borges Lemos, responsável pelas áreas de operações indiretas e de administração, durante encontro com empresários na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul.