Título: Valor universal
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 10/05/2005, Opinião, p. A16

Embora especialmente motivada pela aproximação econômica entre as duas regiões, a Reunião de Cúpula da América do Sul e dos Países Árabes deve servir para aquietar os ruídos diplomáticos do Brasil com a Argentina e para reafirmar valores democráticos a serem compartilhados entre as nações presentes. O encontro do presidente Lula e do ministro Celso Amorim com Néstor Kirchner e seus auxiliares, por exemplo, poderá ajudar a recompor as relações entre os dois países, ainda sob os efeitos das enfáticas críticas das autoridades argentinas à política externa brasileira. A conversa com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, constitui outra missão relevante imposta ao Itamaraty no encontro que segue até amanhã em Brasília. Do governo brasileiro, afinal, espera-se uma ação como força ''moderadora'' dos impulsos do presidente venezuelano.

Oficialmente, pretende-se discutir as alternativas de cooperação nos negócios bilaterais. A cúpula, contudo, constitui uma oportunidade para a troca de experiência entre os sul-americanos e os árabes. As mais notáveis conquistas da América do Sul estão nos avanços democráticos. A despeito das turbulências institucionais periódicas, aqui, em geral, fez-se uma transição estável de regimes ditatoriais para a democracia, seguida de reformas (ainda em curso) visando a construir os pilares para o desenvolvimento.

São valores que não têm preço. Essa é a principal lição a oferecer aos líderes árabes. Tão relevante quanto os dividendos econômicos decorrentes dos eventuais acordos bilaterais. Ainda que tisnada por tentativas aventureiras, a consolidação democrática latino-americana merece ser regada e difundida. Trata-se de uma premissa para a transparência, a estabilidade e o progresso econômico e institucional. Tal regra vale tanto para o Ocidente quanto para o Oriente.