O Estado de S. Paulo, n. 46617, 05/06/2021. Política, p. A12

Bretas condena Pezão a 98 anos de prisão por corrupção e lavagem

Fabio Grellet
Rayssa Motta
Fausto Macedo


O ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão (MDB) foi condenado em primeira instância a 98 anos, 11 meses e 11 dias de prisão pelos crimes de corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Essa foi a primeira condenação de Pezão no âmbito da Operação Lava Jato.

O ex-governador segue em liberdade até o trânsito em julgado da ação. Outros 10 réus foram condenados, entre eles o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), de quem Pezão foi vice.

A decisão do juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, decorre da Operação Boca de Lobo. Na denúncia apresentada à Justiça, o Ministério Público Federal afirma que, de 2007 a 2014, Cabral pagou R$ 150 mil mensais em “vantagens indevidas” a Pezão. O benefício incluía até um 13º salário.

Pezão também foi acusado de receber R$ 11,4 milhões da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), entre 11 de junho de 2014 e 3 de junho de 2015.

Cabral, por sua vez, foi condenado a 32 anos, nove meses e cinco dias de prisão pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. O ex-governador, que está preso desde 2016, já foi condenado em outras ações a penas que, somadas, ultrapassam 200 anos de prisão.

O Estadão tentou contato com Pezão e com a defesa de Cabral, mas não obteve resposta até a conclusão desta edição.

Juiz. Em uma mensagem publicada em sua conta pessoal no Twitter, Marcelo Bretas reagiu ontem às acusações de condução irregular dos processos do braço fluminense da Lava Jato, feitas pelo advogado Nythalmar

Dias Ferreira Filho. O criminalista foi alvo de operação da Polícia Federal no ano passado, sob suspeita de tráfico de influência, e agora tenta a homologação de um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria- Geral da República, na qual aponta atuação irregular de Bretas.

O conteúdo dos anexos foi revelado pela revista Veja. De acordo com a reportagem, Bretas é apontado pelo advogado como um juiz que negocia penas dos condenados, orienta advogados, combina estratégias com o Ministério Público, direciona acordos de colaboração premiada e pressiona investigados.

A matéria cita exemplos dados por Nythalmar: ele diz que o Bretas garantiu ao ex-presidente da Delta Engenharia, Fernando Cavendish, “aliviar” a pena dele caso o empresário fechasse acordo de colaboração premiada. Afirma também que o juiz intermediou um “acordo informal” com o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, para poupar sua mulher, a ex-primeiradama Adriana Ancelmo, das investigações de corrupção que atingiram o político.

“Afirmações falsas! Fatos distorcidos! A reunião referida pelo advogado de defesa (e por ele gravada) foi feita a pedido do próprio advogado e com a participação do representante do MPF, na 7.ª Vara Federal Criminal do RJ”, afirma Bretas sobre as declarações do advogado.