Correio Braziliense, n. 21476, 03/01/2022. Economia, p. 5

Força do agronegócio se mantém em 2022
Fernanda Strickland


A agropecuária tem sido, nos últimos anos, um importante suporte para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, e em 2022, ano em que o ritmo geral da economia deve diminuir,  podendo desembocar até numa recessão, o setor será um dos poucos a mostrar avanço, na opinião de  analistas. Na avaliação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB da  agropecuária deve subir 2,4% neste ano, na comparação com 2021. Para o economista Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da consultoria Brain, a produção do campo terá expansão de 2,5%.

Araújo observa que, nas contas do Banco Central (BC), o PIB nacional deve crescer 1% em 2022 e  que os principais analistas do mercado financeiro, de acordo com o Boletim Focus, projetam uma  alta de apenas 0,5%. “Portanto, uma expectativa de 2,5% é duas vezes e meio maior do que o  crescimento previsto pelo BC, ou cinco vezes o estimado pelo mercado financeiro. Ainda que não  vejamos um avanço como o de alguns anos da última década, em que a produção cresceu mais de 5%,  teremos uma alta muito positiva”, diz o economista.

Desafios 

De acordo com Araújo, o setor precisará lidar com três grandes preocupações neste ano. A primeira é  com relação ao clima, que se mostra cada vê mais inconstante. “A questão da mudança climática  realmente está chegando”, diz ele. A segunda preocupação se concentra no custo dos insumos, que  tem aumentado significativamente. O terceiro problema para o setor é o impacto, ainda não  totalmente claro, das restrições que têm sido adotadas por diferentes países importadores de produtos brasileiros, sobretudo da União Européia,  por conta do desmatamento na Amazônia.

Em 2021, a agropecuária foi fortemente afetada pela crise hídrica, a mais severa vivida pelo país  nos últimos 91 anos. A falta de chuvas, ao lado de geadas que ocorreram em algumas regiões  produtoras, foi a principal responsável pela quebra das safras de culturas importantes, como café,  cana de açúcar, milho e algodão. Como resultado, a produção do campo rateou e encolheu 8%, no  terceiro trimestre, na comparação com os três meses anteriores, segundo o Instituto Brasileiro  de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar desse tropeço, as perspectivas para 2022 são favoráveis, segundo a especialista da Mesa  Agro da Terra Investimentos Bianca Moura. “Conforme estimativas da Companhia Nacional de  Abastecimento (Conab), a safra 2021/22 indica recorde de 291,07 milhões de toneladas de grãos. A  agricultura foi e continua sendo um dos principais setores da economia. Parte da economia  brasileira depende da agricultura, pois esse é um setor que gera empregos, que são puxados pelos  crescentes investimentos no setor, ano após ano”, diz ela.

Não à toa, o setor tem se destacado por aumentar a contratação de trabalhadores, inclusive  com formação superior, em meio a um quadro geral de desemprego, tanto que o número de pessoas  ocupadas no campo já voltou aos níveis pré-pandemia. No terceiro trimestre do ano passado,  segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), o número  de trabalhadores no campo chegou a 18,9 milhões, um avanço de mais de 10% em relação a um ano antes. Foi, além disso, o nível mais elevado em seis anos.

Para Nelson Roberto Furquim, engenheiro de alimentos e professor do Centro de Ciências Sociais  e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, além do clima, outro fator que pode  atrapalhar o cenário favorável para a agropecuária são os aumentos de preço de insumos, em  especial de fertilizantes e defensivos agrícolas. São produtos com grande conteúdo de  importação e que, por isso, sofrem impacto direto da cotação do dólar. Com a valorização da moeda norte-americana nos últimos meses, os custos de  produção aumentaram.

De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a elevação dos custos  de produção, devido à alta no preço dos insumos, é um dos elementos que vai impactar o setor em  2022. Para a entidade, além disso, fatores climáticos, como as secas, devem continuar gerando  preocupações.

Júlio Cézar Busato, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), afirma que a agricultura, novamente, será o setor que mais vai contribuir para a  economia brasileira. “E tomara que ela continue crescendo e produzindo cada vez mais. O mundo  está necessitando de um aumento da produção de soja, milho, carnes e fibras, como é o caso do  algodão, e o Brasil está se tornando o grande provedor mundial. Nós precisamos aproveitar es sa oportunidade, porque, se não fizermos isso, outro país vai aproveitar”, destaca.