Título: Brasil critica burocracia da ONU
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2004, Internacional, p. A-9

Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, diz que lentidão complica trabalho de paz da missão brasileira O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, demonstrou ontem a insatisfação do governo brasileiro com a burocracia das Nações Unidas, que, segundo ele, dificulta o desenvolvimento de projetos no Haiti.

- Não é possível que se dependa eternamente de apresentar projetos para realizar coisas simples como destampar canais e tapar buracos de estradas - desabafou, em declarações a jornalistas, referindo-se aos trâmites solicitados pelas Nações Unidas para liberar recursos financeiros para obras de infra-estrutura.

Segundo Amorim, os procedimentos são muito lentos e repletos de solicitações que dificultam, entre outras coisas, a geração de empregos que beneficiariam os haitianos e contribuiriam para reduzir o clima de tensão no país caribenho. Para que o desenvolvimento do Haiti possa ser retomado, de acordo com o ministro, a burocracia ''tem que acabar já''.

Com relação ao recrudescimento da violência no país, onde o Brasil lidera uma missão das Nações Unidas (Minustah) Amorim admitiu que é cada vez mais difícil controlar a situação. Quarta-feira, rebeldes que depuseram o antigo regime ameaçaram voltar às armas e tomar o lugar dos capacetes-azuis.

- Enquanto não for completada a quantidade de efetivos militares previstos para a Minustah, será difícil enfrentar a violência - advertiu o ministro, que lembrou que o Brasil deu todo o apoio político possível à ONU. - Demos suporte ao representante especial da ONU no Haiti, Juan Gabriel Valdés - disse em alusão ao ex-ministro chileno.

Amorim disse ainda que além de ter doado mantimentos e remédios para o país - onde milhares de pessoas morreram ou ficaram desalojadas pelas passagens do furacão Ivan e da tempestade tropical Jeanne , no mês passado - o Brasil enviou representantes diplomáticos para verificar o que mais pode ser feito.

O chanceler lembrou ainda que os problemas dos haitianos foram discutidos com o secretário de Estado americano, Collin Powell, durante visita a Brasília no início do mês. Na ocasião, Amorim solicitou ao governo de Washington que se somasse às gestões brasileiras no sentido de facilitar a liberação das verbas para a reconstrução e aumentar o número de soldados para as tropas da ONU.

- A situação do Haiti é delicada, mas confiamos que as tropas que estão lá, com o apoio das que devem chegar brevemente, inclusive com reforços policiais, permitirão controlar a situação - disse o ministro.

A missão da ONU previa contar com 6.700 soldados. Segundo o ministro, até agora são apenas 3 mil homens da Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, Paraguai, e outras nações.