O Globo, n. 31574, 17/01/2020. Segundo Caderno, p. 2

Governo anuncia prêmio e edital para a Cultura

Helena Aragão
Jan Niklas


Após um primeiro ano marcado pelo fim do Ministério da Cultura e por embates com a classe artística, o governo começa 2020 acenando com uma agenda positiva para o setor. Na noite de ontem, o secretário Especial de Cultura, Roberto Alvim, participou da live do presidente Jair Bolsonaro para anunciar o Prêmio Nacional das Artes, no valor total de mais de R$ 20 milhões. Mais cedo, Dante Mantovani, escolhido de Alvim para presidir a Fundação Nacional das Artes (Funarte), divulgou o orçamento de R$ 38 milhões para investimentos em editais, publicações e reformas de equipamentos ao longo do ano.

Depois de adiantar que pretende lançar, em fevereiro, um edital para o “cinema sadio, ligado aos nossos valores, com filmes sobre figuras históricas brasileiras e alinhando conservadorismo e arte”, Alvim anunciou alguns detalhes do prêmio cujas inscrições serão abertas ainda este mês. Com ele, o governo vai selecionar cinco óperas (R$ 1,1 milhão para cada), 25 espetáculos teatrais de R$ 250 mil, 50 exposições individuais de R$ 100 mil nas categoria “pintura” e “escultura”, além da publicação de 25 contos de R$ 25 mil, 15 histórias em quadrinhos de R$ 50 mil e músicas de 25 compositores (R$ 100 mil para cada). Em todas as áreas, os contemplados devem ser das cinco regiões do país. A ideia, diz Alvim, é oferecer os livros e as HQs de graça para a população, por exemplo.

Na live (da qual participou também o ministro da Educação, Abraham Weintraub), Alvim e Bolsonaro voltaram a falar de “uma arte para a maioria” e a abordar a questão dos filtros temáticos para obras que recebem fomento do governo. O secretário defendeu que “curadoria não é censura”. Já no vídeo que acompanha o texto publicado no site da secretaria, Alvim dá mais detalhes: diz que o resultado da seleção sairá em abril, e os pagamentos serão executados em maio. E diz: “As virtudes da fé, da lealdade, do autossacrifício e da luta contra o mal serão alçadas ao território da arte.”

‘Arte pura’

No anúncio da Funarte, Dante Mantovani celebrou o fato de contar com um valor três vezes superior aos R$ 12 milhões do ano passado para apoiar projetos. Ele apresentou seu plano de ações para o ano. Além de uma série de metas para descentralizar a atuação do órgão, tornando-o mais atuante nas cidades do interior do Brasil, Mantovani anunciou também a escolha de Kay Lyra, filha do cantor e compositor Carlos Lyra, para o núcleo de música popular da entidade.

Na solenidade, no Rio, Mantovani assinou ainda o primeiro edital de sua gestão, o Prêmio Funarte de apoio a Bandas de Música, que dará 790 instrumentos de sopro para 158 projetos espalhados pelo país, ao custo de R$5,5 milhões. Durante a apresentação, ele foi questionado sobre as políticas do governo Bolsonaro para a área cultural.

—Ainda há muito preconceito em relação ao artista por parte de muitos empresários, mas vou criar um fórum de artistas e empreendedores para aproximá los—afirmou.

Além de recursos próprios da Funarte, a equipe conseguiu fundos através de editais inscritos no Fundo Nacional de Cultura (FNC). Mantovani anunciou ainda a disponibilização de R$1 milhão para cada uma das quatro administrações regionais (Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Distrito Federal) investirem em programação ao longo do ano. E disse que pretende inaugurar equipamentos da entidade nas regiões Norte, Nordeste e Sul.

O presidente da Funarte disse ainda que a curadoria dos projetos e de ocupação artística dos espaços da Funarte se guiarão por “critérios técnicos”.

— Acho que tem que haver separação entre arte e política. Quando se misturam os dois, os resultados são propaganda ideológica. Vamos valorizar a arte pura —afirmou o maestro.

“Acho que tem quer haver separação entre arte e política”

Dante Mantovani, presidente da Funarte