O Globo, n. 31574, 17/01/2020. País, p. 11

Polícia investiga se houve sabotagem no tratamento

Marcos Nunes
Vera Araújo


Policiais civis da Delegacia de Defesa de Serviços Delegados (DDSD) realizaram ontem pela manhã uma operação na estação de tratamento do Guandu, conforme antecipou o blog do colunista Ancelmo Gois, do Globo. O objetivo foi verificar a possibilidade de funcionários da Cedae terem provocado, de forma involuntária ou não, a contaminação da água nos reservatórios da companhia por geosmina, substância de forte cheiro e gosto de terra que é produzida por algas.

— Estamos coletando amostras da água e documentos para saber se houve um crime dentro da empresa — disse o delegado Julio Silva Filho, titular da DDSD, durante a inspeção.

Por meio de uma nota, a Polícia Civil informou que a diligência fez parte “de uma investigação para apurar eventual responsabilidade penal de funcionários da Cedae ou de terceiros que possam ter contribuído, por ação ou omissão, nas alterações das condições de consumo da água verificada nos últimos dias na Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro”.

— Precisamos apurar se há a possibilidade de indício penal. É claro que estamos considerando o posicionamento do presidente da Cedae (Hélio Cabral, que afirma não existir risco à saúde no consumo da água), mas temos também de saber em que pé estão as coisas para, se for o caso, dar mais tranquilidade à população — afirmou o delegado.

— Vamos convocar funcionários e, a partir de seus depoimentos, definir o rumo da nossa investigação. Não descartamos nada, nem mesmo a hipótese de sabotagem.

Silva Filho disse que um perito da própria Polícia Civil coletou as amostras de água nos reservatórios:

— Ele é especializado em meio ambiente. O material deverá ser analisado pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente), mas podemos procurar outros centros de pesquisa. Ainda estamos vendo isso.

Na última quarta-feira, quando a crise da água completou 13 dias, Hélio Cabral falou pela primeira vez sobre o assunto. Em uma entrevista coletiva, ele pediu desculpas pelos transtornos causados à população e afirmou que a situação será normalizada “muito em breve”. Hoje, deve chegar ao Rio a primeira das três carretas que transportam partes de um equipamento que vai pulverizar carvão ativado nos reservatórios da empresa, para neutralizar a geosmina. Os veículos partiram de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo.

A previsão da companhia é que o equipamento seja instalado na próxima semana. Depois da aplicação do carvão ativado, que vem do Paraná, a estimativa é que a água estará livre do gosto e do cheiro da geosmina dentro de 24 horas — para o consumidor, no entanto, a melhoria da qualidade vai depender do tamanho do reservatório de sua residência.