Correio Braziliense, n. 21408, 27/10/2023. Política, p. 4

Três votos contra cassação de chapa



O ministro Luís Felipe Salomão, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), votou, ontem, contra a cassação da chapa vencedora das eleições de 2018, formada pelo presidente Jair Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão. A Corte julga ações de investigação que acusam os vencedores do pleito de abuso do poder econômico por causa de disparos em mensagens em massa.

Salomão avaliou que não se evidenciou ilegalidade pela prática durante a campanha de Bolsonaro para atacar adversários no pleito, como alegava a chapa perdedora, liderada por Fernando Haddad (PT). Para o magistrado, ficou caracterizado o uso de mensagens em massa e o Whatsapp, aplicativo de conversas, mas não se apresentou dados de abuso de poder econômico. O ministro Mauro Campbell teve o mesmo entendimento, votando contra a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão. O ministro Sérgio Banhos foi o terceiro a votar contra a punição da chapa.

Ao analisar a ação, o relator Luis Felipe Salomão criticou o modus operandi dos bolsonaristas, com ataques disseminados pelas redes. Mas disse não haver provas suficientes para cassar a chapa formada pelo presidente e pelo vice. Em seu voto, o ministro citou a existência de uma organização criminosa para espalhar informações falsas e atacar instituições democráticas. Ele lembrou que os fatos são apurados em um inquérito em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

O ministro Luís Felipe Salomão deixa um relatório parcial que investiga o presidente Jair Bolsonaro em cinco frentes de apuração. Esse foi o último ato do embate travado pelo magistrado na Corte contra as fake news. Corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ele se desliga do cargo nesta sexta-feira, por conta do término do rodízio de dois anos como juiz titular.

Outras ações
Salomão foi designado relator de duas ações que pedem a cassação da chapa do presidente Jair Bolsonaro e do vice, Hamilton Mourão, vencedora da corrida presidencial de 2018. Na lista de investigações abertas pelo magistrado contra o mandatário e que devem ser aprofundadas estão: a live de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas, a desmonetização de blogs e sites que espalham notícias falsas, os ataques ao sistema eleitoral nos atos de 7 de setembro, a possível ingerência política na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a investigação das motociatas por suspeita de propaganda antecipada.

Salomão deixa os autos do inquérito contra Bolsonaro e Mourão para o ministro Mauro Campbell, que assumirá a cadeira e passará a relatar o caso. O corregedor-geral também pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes o compartilhamento das provas obtidas nas investigações das fake news e dos atos antidemocráticos, que também haviam sido compartilhadas com as ações no TSE que investigam uso ilegal de disparos em massa pela campanha de Bolsonaro em 2018. (LP)