O Globo, n. 31444, 09/09/2019. País, p. 7

Após cirurgia, Bolsonaro tem quadro estável
Dimitrius Dantas
Sérgio Roxo


Embora mais longa do que o previsto inicialmente, foi bem-sucedida a cirurgia de correção de hérnia incisional a que o presidente Jair Bolsonaro teve de ser submetido ontem, no Hospital Vila Nova Star, na Zona Sul de São Paulo. O procedimento começou às 7h35m e terminou às 12h40m. Segundo o boletim médico, ele foi para o quarto com quadro clínico estável. Cerca de três horas após o fim da intervenção, um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), publicou no Twitter que o pai estava “disposto e bem-humorado”. Mais tarde, o próprio presidente escreveu na rede social: “Logo estarei de volta ao campo”.

De acordo com Antônio Macedo, cirurgião do presidente, ele ficará em recuperação por cinco dias. O vice, Hamilton Mourão, assumirá a Presidência neste período. Bolsonaro só terá alta quando puder viajar de avião, o que deve acontecer entre o sétimo e o décimo dia após a intervenção, e passará alguns dias despachando do hospital. Quando tiver alta, Bolsonaro seguirá diretamente para Brasília. A expectativa é que não haja problemas para sua liberação para comparecer à abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, no próximo dia 24.

— Ele está, do ponto de vista clínico e geral, muito bem. Não tem sinal de cansaço — disse Macedo.

Salles faz visita

Segundo o médico, a cirurgia demorou mais do que o habitual porque a equipe não esperava que o intestino do presidente tivesse voltado a aderir ao tecido abdominal, o que exigiu maior paciência para a correção da hérnia e a introdução de uma tela de polipropileno para reforço muscular:

— O que não se pode é correr na cirurgia. Tem que ter calma. Se precisar demorar quatro horas, demora. Se precisar demorar oito, demora. O importante é ficar bem-feito. Normalmente uma (cirurgia de) hérnia não demora tudo isso, mas não contávamos que o intestino tivesse aderido de novo. (O procedimento) Tem que ser feito muito devagar, com muito cuidado. A hérnia surgiu, de acordo com Macedo, em razão do número de operações às quais o presidente foi submetido desde o atentado.

— Houve a laparotomia feita pela equipe em Juiz de Fora, a peritonite e depois a reconstrução do trânsito intestinal. Dois milhões de laparotomias são realizadas nos Estados Unidos todo ano. Desses 2 milhões, 200 mil geram hérnia incisional. Então, é um evento razoavelmente prevalente. Por isso colocamos uma tela para auxiliar o reforço do tecido — explicou.

O presidente manterá dieta líquida nos próximos dias, e as visitas serão restritas. Ontem à tarde, Bolsonaro recebeu o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que ficou cerca de meia hora no hospital e saiu dizendo que o presidente estava “muito bem”.

De acordo com o porta-voz Otávio Rêgo Barros, o apartamento onde o presidente está tem toda a estrutura necessária para que trabalhe enquanto estiver internado:

— A estrutura do hospital é excepcional, temos condições de proporcionar ao presidente o despacho normal, não obstante as questões procedimentais médicas.

Segundo Antônio Macedo, dois filhos do presidente, o deputado Eduardo (PSL-SP) e o vereador Carlos (PSC-RJ), e a primeira dama Michelle Bolsonaro acompanharam a cirurgia a partir de uma sala lateral, por meio de um vidro.