O Estado de S. Paulo, n. 46927, 11/04/2022. Política, p. A7

Planalto avalia situação de Ciro Nogueira após ‘escolas fake’

Breno Pires
Guilherme
Pimenta Izael Pereira


O Palácio do Planalto demonstra preocupação com o desgaste político do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Auxiliares mais próximos do presidente Jair Bolsonaro avaliaram que a revelação de um esquema de 'escolas fake', que tem como base o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ameaça a permanência do ministro no governo e tem potencial corrosivo para a estratégia da campanha à reeleição do presidente – centrada no debate da corrupção.

Ontem, o Estadão revelou que, com o aval do FNDE, controlado pelo ministro da Casa Civil, deputados "vendem" aos seus eleitores a ideia de que conseguiram recursos para colégios e creches, com promessas de construção de duas mil novas unidades sem garantias orçamentárias.

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) vai pedir a abertura de uma investigação na Corte até amanhã, em mais um desgaste para o governo provocado pela área controlada por Ciro Nogueira.

Uma série de reportagens do jornal já mostrou que o ministro, por meio de um apadrinhado, controla o FNDE – órgão que concentra o dinheiro do setor. O ministro tem se reunido com o presidente do FNDE, Marcelo Ponte, com frequência.

A ala ideológica e o núcleo militar do governo avaliaram que o levantamento de 3,6 mil obras de escolas, creches e quadras paradas no País, apresentado pela reportagem, põe em xeque a narrativa de eficiência e o suposto caráter técnico na distribuição de recursos da infraestrutura.

A situação de Ciro no Planalto é monitorada mais de perto por essa ala do governo desde que o Estadão revelou um esquema de cobrança de propina no Ministério da Educação operado por pastores. A prioridade número um no Planalto é pavimentar o caminho de mais um mandato para o presidente. Essa premissa foi fundamental para a saída de Milton Ribeiro do cargo de ministro da pasta.

No governo, auxiliares de Bolsonaro começaram a fazer o discurso de que o envolvimento de Ciro Nogueira com casos de corrupção é do governo anterior. Na última quinta-feira, a Polícia Federal concluiu que o atual ministro recebeu propinas do grupo J&F e praticou crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na campanha da reeleição da expresidente Dilma Rousseff.

Procurado pela reportagem, Ciro não foi localizado.

'Jogo'. O senador Oriovisto Guimarães (Podemos-pr), que retirou a assinatura para a instauração de uma CPI do MEC, afirmou que as revelações deste domingo demonstram que há um "puro jogo para enganar a sociedade".

A presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, defendeu a rápida investigação dos fatos. "Tudo isso já constituiria um escândalo em anos normais", afirmou.