O Globo, n. 31482, 17/10/2019. País, p. 6

Bolsonaro quer Eduardo na liderança do PSL

Natália Portinari
Bruno Góes 
Naira Trindade


Em mais um capítulo da crise no PSL, deputados ligados ao presidente Jair Bolsonaro formalizaram, na noite de ontem, um pedido para trocar o líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (GO). Eles dizem ter conseguido assinaturas de mais de metade da bancada de 53 deputados. Os aliados de Luciano Bivar, presidente da sigla, porém, protocolaram na Mesa Diretora da Casa uma nova lista, com 32 assinaturas, cobrando a permanência de Waldir.

Os bolsonaristas querem colocar Eduardo Bolsonaro (SP) na liderança. Deputados ouvidos pelo Globo relatam que o presidente da República fez ligações pedindo assinaturas para destituir Waldir.

Os deputados não divulgaram os nomes contidos nas listas. Portanto, não é possível saber quais deputados teriam assinado os requerimentos pró e contra a permanência de Waldir. A decisão agora cabe ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que precisa referendar qualquer troca de líder.

— Tendo em vista os últimos acontecimentos referentes apenas à liderança do PSL, visando preservar a imagem do partido na Câmara, por aclamação da maioria dos deputados do partido, ficarei à frente da liderança até dezembro, mês em que realizaremos eleições para o novo líder — disse Eduardo.

Ele afirmou que a discussão sobre a Embaixada do Brasil em Washington, prometida a ele por seu pai, agora é “secundária”:

— Todos os temas como a embaixada e a viagem para a Ásia são temas secundários. A gente está aqui para cuidar dos nossos eleitores, meu foco é ajudar o país.

Na linha de frente da investida de Bolsonaro estavam Carla Zambelli (SP), Major Vitor Hugo (GO), Bia Kicis (DF), Filipe Barros (PR), Alê Silva (MG), Bibo Nunes (RS) e Hélio Lopes (RJ).

Anteontem, Waldir orientou a bancada a entrar em obstrução na votação de uma Medida Provisória e retirou o líder do governo, Major Vitor Hugo, da comissão da reforma da Previdência dos militares, assim como o deputado General Girão (RN).

— Eles (governo) ficaram extremamente preocupados, porque saímos em defesa dos praças, soldados, cabos, sargentos. Isso me parece que traz impacto financeiro. Os parlamentares que estavam até então nessa comissão defendiam apenas os oficiais, generais —disse Waldir.

Áudio de Bolsonaro

Para angariar assinaturas, os bolsonaristas teriam, segundo Waldir, mostrado um áudio de Bolsonaro prometendo cargos e vantagens.

— Há a interferência direta do presidente da República, que quer a minha destituição da liderança do PSL. É algo muito claro, (um áudio) em que o presidente fala das vantagens de ser líder e diz que quer o filho dele, Eduardo, aqui na liderança, que teria o controle de cargos, de fundo partidário — disse o deputado.

Deputados bolsonaristas negaram ter usado a voz do presidente da República.

— Não tem. Não existe isso. Mentira —disse Zambelli .

Na semana passada, Bolsonaro se posicionou contra Bivar. Seus advogados acusaram o dirigente de fazer mal uso do fundo partidário. Anteontem, a Polícia Federal fez uma operação contra Bivar, investigado pelo suposto uso de candidaturas laranjas.

Waldir disse que também é preciso investigar o senador Flávio Bolsonaro (PSLRJ), suspeito de embolsar parte do salário dos funcionários de seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.

— O Brasil não pode ter nenhum bandido de estimação. Existem outras pessoas investigadas. Por exemplo, o filho do presidente. Ele é o presidente do PSL do Rio. Seria importante prosseguir com essa investigação, mas, infelizmente, temos uma decisão nesse momento na Justiça que impede o levantamento dessas informações.