Título: Presidente chega à África
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Fonte: Jornal do Brasil, 11/04/2005, País, p. A2

Um dos principais focos da visita é ampliar o bloco de articulações do G-20

Folhapress

IAUNDÊ - Recebido ontem à tarde por milhares de pessoas nas ruas de Iaundê (capital de Camarões), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou o colega camaronês Paul Biya, no cargo desde 1982, a lutar contra os pesados subsídios e as medidas protecionistas dos países ricos.

- Precisamos mudar as relações de força no mundo. Não podemos ser observadores passivos de decisões que afetam diretamente o nosso destino (...) Juntos, temos de lutar pela eliminação dos pesados subsídios e de outras medidas protecionistas praticadas pelos países ricos - disse Lula, em jantar oferecido à comitiva brasileira no palácio presidencial.

Um dos principais focos da visita que iniciou ontem a cinco países africanos é ampliar o bloco de articulações do G-20 para que os países em desenvolvimento tenham sustentação para, na Organização Mundial do Comércio (OMC), romper as barreiras impostas por EUA e União Européia.

- Só assim conseguiremos derrubar o muro que divide a humanidade entre ricos e pobres - afirmou o presidente.

Apesar de o comércio entre Brasil e Camarões estar hoje em cerca de US$ 30 milhões (contra os US$ 4 bilhões da Nigéria, por exemplo), a visita de Lula ao país ganhou um destaque poucas vezes visto no país, como destaca a imprensa local.

A TV estatal camaronesa, por exemplo, exibiu ao vivo o jantar oferecido pelo presidente local à comitiva brasileira. Uma hora antes, já havia imagens dos convidados chegando ao palácio presidencial. A chegada de Lula ao país, por volta das 17h30 (13h30 no Brasil), também atraiu a atenção da população local.

O trajeto de cerca de 20 km entre o aeroporto e o centro da cidade foi tomado por curiosos. Vestidos com trajes típicos locais e munidos de instrumentos musicais, os populares acenavam e aplaudiam a passagem do comboio com Lula e o presidente Paul Biya. Soldados do Exército foram espalhados por todo o trajeto.

O cenário entre o aeroporto e o hotel em que a comitiva brasileira está hospedada lembra a capital haitiana, Porto Príncipe, com entulhos jogados às margens das ruas, esgoto a céu aberto, iluminação pública quase inexistente e inúmeras feiras livres para a venda de diversos tipos de produto (alimentos, medicamentos, roupas e pneus).

Com 16 milhões de habitantes, Camarões tem 48% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza, segundo dados da CIA (serviço de inteligência dos Estados Unidos). No Brasil, segundo o IBGE, há cerca de 11 milhões de famílias nessa situação.

Há 23 anos no cargo, o presidente camaronês declarou ontem apoio à principal obsessão da política externa brasileira - uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

- A reforma da ONU deve dar o lugar que o Brasil merece, em razão de seu peso e de seu papel no cenário internacional - disse Biya, em discurso no palácio presidencial.

A figura de Biya, aliás, é vista com requintes de adoração na cidade. Em cada esquina, há uma foto do presidente, aplaudido pela população até em discursos transmitidos pela TV. Ontem, assessores do governo distribuíram à imprensa brasileira um kit de Biya chamado ''A definição da democracia'', que traz números da eleição do ano passado, quando foi reeleito, mais uma vez, com 70% dos votos.

Hoje pela manhã, Lula ainda cumpre agenda em Camarões. À tarde, viaja a Abuja (Nigéria). A visita à África inclui também passagens por Gana, Guiné-Bissau e Senegal. Cinco ministros, além da ex-titular da Assistência Social Benedita da Silva, compõe a comitiva brasileira na África.