O Globo, n. 31542, 16/12/2019. País, p. 5

Datafolha: boicote ao GLOBO é reprovado por 76%
Rafael Galdo
Aguirre Talento


Três em cada quatro cariocas (76%) reprovam aconduta do prefeito Marcelo Crivella de não mais atender os jornalistas do GLOBO. O resultado consta na pesquisa Datafolha em que os moradores do Rio avaliaram as ações do poder municipal, na qual a maioria expressou um repúdio à conduta parecido como o já manifestado por várias entidades, como a Associação Brasileira de Imprensa( ABI) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Crivella anunciou no último dia 1º que não responderia mais ao GLOBO, após a publicação de uma reportagem sobre a delação do doleiro Sérgio Mizrahy ao Ministério Público do Rio, em que ele relatou um “QG da propina” na prefeitura do Rio envolvendo empresas que tinham créditos a receber do município.

Dois dias depois, em 3 de dezembro, a prefeitura convocou coletiva de imprensa no Palácio da Cidade, em Botafogo, para detalhara festa do réveillon no Rio. A equipe de Crivella barrou, pela primeira vez, a entrada dos repórteres do jornal, numa ação que se repetiria em outras ocasiões desde então.

Na pesquisa Datafolha, encomendada pelo GLOBO e pela “Folha de S. Paulo ”, a rejeição à forma de proceder da administração municipal alcançou os patamares mais altos entre os que reprovaram a administração Crivella (87%), o governo de Wilson Witzel (85%) e a presidência de Jair Bolsonaro (89%).

No resultado geral, 19% responderam que o mandatário agiu bema o tomara decisão, e 5% não opinaram. Ainda de acordo coma pesquisa, entre os evangélicos o índice dos que consideram que Crivella agiu bem ficou acima da média (30%). O Datafolha realizou 872 entrevistas entre os dias 11 e 13 deste mês. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

Na última sexta, em mais uma coletiva de imprensa, dessa vez para detalhar repasses do governo federal à gestão da saúde do Rio, os assessores de Crivella impediram a presença não só do GLOBO, mas também de outros veículos do Grupo Globo. No local, a equipe de Crivella afirmou que também não tinham sido convidados o Extra, a TV Globo, a Globo News, o G1 e a CBN.

Apesar do veto, os veículos do grupo mantêm o compromisso de dar todas as informações no que se refere à crise na saúde. Em nota, a Associação Nacional de Jornais afirmou que, além de desrespeito com a imprensa, houve uma “afronta” ao cidadão carioca:

“Essa discriminação é absurda e inadmissível. A prefeitura do Rio não pertence a este ou aquele prefeito. O que está ocorrendo é uma afronta ao cidadão e ao contribuinte cariocas, prejudicados no seu direito de amplo acesso às informações.”

A pesquisa Data folha também apresentou questões sobre acrise econômica no Estado do Rio. Oi toem cada dez (81%) concordaram que a situação financeira afetou o sentimento de bem-estar pessoal na capital. Já três em cada quatro (74%) concordaram que a crise atingiu diretamente avida pessoal dos cidadãos do Rio.

Polêmicas de Crivella dividem cariocas, diz pesquisa

Além de enfrentar taxas de reprovação em níveis recordes (72% consideram a administração municipal ruim ou péssima), o prefeito Marcelo Crivella se envolveu em polêmicas este ano que dividiram os moradores do Rio, aponta pesquisa Datafolha encomendada pelos jornais O GLOBO e Folha de São Paulo. Num dos enredos que mais repercutiram, o da Linha Amarela, 71% dos cariocas ouvidos acreditam que o prefeito agiu bem ao suspender a cobrança do pedágio, mas a maioria (55%) reprovou a ordem do prefeito que resultou na destruição das instalações da concessionária. Na ação, agentes municipais usaram retroescavadeiras para derrubar cabines e retirar equipamentos.

O resultado da tentativa de encampar a via, que está sob discussão judicial, foi positivo para Crivella. O instituto constatou que a interrupção da cobrança teve ecos favoráveis em todas as variáveis socio demográficas, de renda ou religião, por exemplo. Apenas 24% disseram que o prefeito Crivella agiu mal em relação ao pedágio. A medida teve apoio, sobretudo, nas zonas Norte e Oeste, que são ligadas pela Linha Amarela, e onde 74% e 73% dos entrevistados, respectivamente, concordaram com a iniciativa. O mesmo ponto foi apoiado por 66% dos moradores do Centro e por 49% da Zona Sul.

A forma violenta com que Crivella tentou romper o contrato com a concessionária Lamsa, no entanto, é que desagradou a maioria. Ao avaliar a operação de 27 de outubro, quando as cancelas foram retiradas à força para liberar a passagem aos motoristas, 70% dos entrevistados mais escolarizados, com nível superior, reprovaram a atitude de Crivella. Também não concordaram com o prefeito 75% dos mais ricos, com renda familiar de mais de dez salários mínimos, e 76% dos que moram na Zona Sul. Por outro lado, num cômputo geral, 41% dos entrevistados aprovaram o comportamento, e 4% não souberam responder.

Controvérsia na Bienal

No mês anterior à con fusão na Linha Amarela, a decisão do prefeito de recolher os quadrinhos “Vingadores: a cruzada das crianças”, na Bienal do Livro, em setembro, gerou protestos e debates entre juristas, que criticaram o ato de censura. Na época, Crivella alegou que a HQ de super-heróis, que ilustrava um beijo gay entre dois dos personagens, continha “conteúdo sexual para menores”. O assunto também foi questionado pelo Datafolha, e as avaliações sobre o tema foram divergentes. Para 50% dos entrevistados, a prefeitura agiu mal no episódio, outros 45% defenderam a suspensão das vendas da HQ, e 5% não opinaram.

Apesar do equilíbrio no resultado final, alguns recortes apresentaram números díspares. Entre os mais jovens, de 16 a 24 anos, 64% manifestaram posição contrária à deliberação do prefeito, e 30% foram favoráveis. Por religião, os evangélicos foram os que mais concordaram: 67%. Entre os católicos, foram 41%, enquanto a menor aprovação (25%) foi constatada entre praticantes da umbanda, do candomblé e dos seguidores de outras religiões de matriz africana.

Num detalhamento por região, a Zona Sul foi a que mais refutou a proibição: 74% disseram que a prefeitura agiu mal no caso, contra 59% no Centro, 49% na Zona Norte e 45% na Zona Oeste.

Carnaval na berlinda

Quanto ao corte de verbas municipais para escolas de samba, as decisões de Crivella estiveram em consonância coma opinião da maioria. Depois de dois carnavais de reduções consecutivas nas subvenções para os desfiles do Sambódromo, o prefeito decidiu que em 2020 não vai fazer quer tipo de repasse às agremiações do Grupo Especial e da Série A, que fazem espetáculos com cobrança de ingressos na Sapucaí. Seis em cada dez cariocas (60%) disseram ser contrários a que houvesse esse tipo de despesa para as contas públicas, enquanto 35% disseram admitir os aportes.

Oriundas, a maioria delas, de comunidades pobres, a pesquisa aponta que as escolas de samba enfrentam mais resistência nesse quesito justamente entre os que têm menor renda familiar mensal. Dos que ganham até dois salários mínimos ,66% afirmaram ser contra os repasses. Essa é a mesma posição de 87% dos evangélicos. Entre os seguidores das religiões de matriz africana, com tradições recorrentemente cantadas no carnaval, a rejeição à destinação de verba pública aos desfiles alcançou 38%.

A pesquisa Datafolha foi realiza entre os dias 11 e 13 de dezembro, em todas as regiões da cidade do Rio, com 872 entrevistados com 16 anos ou mais. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

Bolsonaro diz gostar de prefeito, mas nega apoio: ‘Estou solteiro’

O presidente Jair Bolsonaro declarou ontem que “gosta” do prefeito do Rio Marcelo Crivella (Republicanos), mas disse que não irá anunciar apoio por enquanto a nenhum candidato às eleições municipais.

Crivella, que tem feito acenos em busca do apoio de Bolsonaro, tem sua gestão reprovada por 72% dos eleitores, segundo pesquisa Datafolha encomendada pelo GLOBO e pelo jornal “Folha de S. Paulo”. O prefeito do Rio já abriu a possibilidade de que o vice de sua chapa seja indicado por Bolsonaro, que deixou o PSL para fundar o partido Aliança pelo Brasil.

Questionado ontem na saída do Palácio da Alvorada sobre a gestão carioca e a busca de Crivella por uma aliança eleitoral, Bolsonaro evitou manifestar apoio.

— Estou livre agora, estou solteiro, você quer que eu case com alguém agora? Não vou casar. Gosto do Crivella, me dou bem com ele, (mas) a população é quem vai decidir quem vai ser o futuro prefeito — declarou.

Bolsonaro disse ainda que sua participação nas eleições municipais será definida pelo entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a coleta de assinaturas através de biometria para criação de novos partidos, o que agilizaria a homologação do Aliança pelo Brasil.

— Se não for possível, vou continuar sem partido, e não sei como vai ficar para as eleições municipais — afirmou.