O Estado de S. Paulo, n. 46868, 11/02/2022. Economia & Negócios, p. B2

Embrapa vê economia de R$ 320 mi por ano com novo modelo de gestão

Augusto Decker
Leticia Pakulski


 

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) prevê atingir, em até 12 anos, uma economia de mais de R$ 320 milhões por ano com o projeto Transforma Embrapa. A iniciativa, que envolve ações para o curto, médio e longo prazos, foi antecipada com exclusividade ao Broadcast Agro.

Segundo o presidente da Embrapa, Celso Moretti, com as mudanças a empresa ficará mais ágil e eficiente. “A empresa poderá gastar mais energia com aquilo que é importante: desenvolver soluções para resolver os problemas do agronegócio brasileiro”, afirma. A reorganização da estrutura da estatal, que vem sendo discutida e implementada há alguns anos, ganhou corpo após um trabalho da consultoria Falconi, iniciado em agosto do ano passado e que deve ser concluído em março.

As primeiras economias vêm do corte de custos na sede da Embrapa. Segundo Moretti, é possível economizar R$ 4 milhões, de um custo total de R$ 15 milhões. Já para o médio prazo, de um a três anos, a economia é de R$ 18,6 milhões e virá do redesenho da organização, principalmente na sede, mas com reflexo nas unidades. Está prevista a criação de um centro de serviços compartilhados, que substituirá áreas administrativas das unidades. “O centro vai gerenciar a operação da empresa em todo o Brasil.”

Segundo Moretti, com o centro será possível eliminar até 35% das funções comissionadas. A empresa cairá de 640 cargos comissionados, que preveem remuneração adicional, para 420. “Mas não existe, nos planos da empresa, demissão de empregados”, afirma.

No longo prazo, a empresa prevê a saída de 840 funcionários por conta do limite de idade de 75 anos para a aposentadoria compulsória no setor público. Isso geraria uma economia de quase R$ 300 milhões a partir do 12.º ano.

Moretti diz, porém, que a Embrapa vai negociar com o Ministério da Economia a possibilidade de outro Plano de Demissão Incentivada (PDI). A perspectiva é de saída de funcionários de apoio, que trabalham em campos experimentais, laboratórios e na administração. “A ideia é avançar com a terceirização, para que foquemos a contratação de pessoas da atividade-fim, que são pesquisadores e analistas.” Atualmente, a Embrapa tem cerca de 8 mil funcionários.

Crítica. Para Pedro de Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), no entanto, a mudança de modelo na Embrapa pode ser arriscada. “A pesquisa pública, no sentido de pesquisar o necessário para o futuro da agricultura brasileira no longo prazo, não necessariamente é resultado de investimento privado, quer seja do limitado capital nacional em pesquisa, quer seja dos capitais internacionais que nem sempre têm o mesmo objetivo nacional de longo prazo”, disse. Camargo Neto já integrou o conselho da Embrapa – saiu após divergências.

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), Marcus Vinicius Sidoruk Vidal, a reestruturação proposta no “é mais do mesmo”. “Em 2018, aconteceu outra experimentação semelhante com as mesmas supostas economias, e que só resultou em desorganização institucional.”

Vidal diz que a Embrapa não tem “grandes problemas de gestão”. “O problema da Embrapa é a redução do seu orçamento para pesquisa.” 

“A empresa poderá gastar mais energia com aquilo que é importante: desenvolver soluções para o agronegócio brasileiro.”

“A ideia é avançar com a terceirização.”

Celso Moretti

Presidente da Embrapa