Título: Desnutrição mata 16ª criança índia
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/04/2005, País, p. A6

- A décima-sexta criança indígena vítima de desnutrição morreu no fim da noite de sexta-feira, quando era transferido para a Santa Casa de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. O guarani Rafael Nunes, 2 anos, residia na aldeia Piraquá, em Antonio João, a 274 quilômetros de Campo Grande, e estava internado desde o último dia 14 no Hospital Universitário de Dourados. Rafael sofria de pneumonia, insuficiência cardiorrespiratória e leishmaniose - doença transmitida por picada de inseto. Só no Hospital Universitário de Dourados, outras 55 crianças indígenas encontram-se internadas com quadro de desnutrição

Amanhã, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) lança, em Altamira (PA) a terceira edição de uma campanha de vacinação de índios, cujo principal foco é o atendimento a crianças e mulheres. A meta é vacinar 14.200 índios em 12 estados, até o fim de abril, contra difteria, tétano, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, varicela, pneumonia, hepatite B, gripe, tuberculose e febre amarela. A meta é modesta, se for considerada a população de 740 mil índios que vivem em aldeias no país, segundo o IBGE.

As recentes mortes de índios caiovás em Dourados (MS) e xavantes em Campinópolis (MT) ocupam a pauta da Comissão de Direitos Humanos do Senado. Na Câmara, uma comissão externa investiga as mortes das crianças da tribo Guarani-Caiová, com 11 mil integrantes desalojados de suas terras há 50 anos, cuja única fonte de renda provém de ajuda financeira do governo.

Autoridades da Funasa e da Funai ouvidas no Parlamento destacam a falta de qualificação dos profissionais de saúde que atenderam as crianças vítimas da desnutrição como uma das razões das mortes. Em depoimento à Comissão de Direitos Humanos na última quinta-feira, o presidente do Instituto Americano das Culturas Indígenas do Brasil, Davi de Oliveira Terena, culpou a Funai e a Funasa pelas mortes de crianças caiovás. Segundo ele, a Funai repassou o cuidado com a saúde de povos indígenas para a Funasa que, desaparelhada e despreparada, agravou os problemas de desnutrição.

O coordenador da Comissão de Saúde Indígena da Funasa, Alexandre Padilha, afirmou em audiência pública realizada na Câmara que a mortalidade por desnutrição vem caindo no Mato Grosso do Sul desde que o governo implantou um centro de recuperação nutricional para os índios na região, no início do ano. Não soube, entretanto, explicar por que as iniciativas governamentais não foram capazes de evitar as mortes das crianças caiovás.

- Ou as aldeias estão recusando o trabalho que o governo está fazendo ou o trabalho não atende à realidade. Fico com a segunda opção - rebateu a relatora da comissão, deputada Perpétua Almeida (PCdoB/AC).

Segundo relatório da Anistia Internacional, a base do problema reside na escassez de terras e no despreparo do governo para criar soluções para a questão indígena. O documento não poupou o governo Lula de críticas quanto à sua política indígena.