O Estado de S. Paulo, n. 46868, 11/02/2022. Economia & Negócios, p. B1

Embrapa busca perfil mais “privado”

Augusto Decker
Leticia Pakulski


 

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estatal com papel preponderante no desenvolvimento do agronegócio brasileiro, prepara uma grande reestruturação que deve mudar sua face nos próximos anos. O projeto envolve corte de custos e redução de despesa com pessoal. Paralelamente, entrará em vigor um novo modelo de parceria com o setor privado que pretende tornar a empresa autossustentável, para não ter mais de depender dos recursos do Orçamento federal – sempre submetidos ao humor do governo e do Congresso – para sobreviver.

Segundo o presidente da Embrapa, Celso Moretti, um dos pilares do plano é um novo modelo de negócios: associar-se a empresas privadas que colocarem no mercado os produtos desenvolvidos em seus centros de pesquisa e, dessa forma, obter os recursos necessários para sua operação.

Atualmente, a Embrapa recebe apenas royalties pelos produtos que desenvolve. Mas, tornando-se sócia das empresas, Moretti acredita que poderia arrecadar, num prazo de 5 anos, o suficiente para não depender do governo – em 2020, a operação custou cerca de R$ 350 milhões. “Nós entregamos valor, mas capturamos muito pouco.”

Como exemplo, ele citou a Bioma, que comercializa o BiomaPhos, um bioinsumo produzido a partir de pesquisas da Embrapa. “Eles faturaram aproximadamente R$ 100 milhões e pagaram R$ 4 milhões para a Embrapa. Se fôssemos sócios com 50%, receberíamos R$ 50 milhões. Mesmo tendo 30%, seriam R$ 30 milhões.”

Ele afirma, porém, que a Embrapa continuará cumprindo seu papel social. “Temos orçamento público que financia ações públicas de desenvolvimento, e esses resultados são transferidos sem custos para a sociedade brasileira. Isso vai continuar acontecendo.” •